Bem, assim que decidi fazer o
caminho (foi em um final de semana de junho ou julho/15, não lembro ao certo),
fiz uma busca na Internet e descobri que na semana seguinte haveria uma
palestra online da Associação dos Amigos e Peregrinos do Caminho de Santiago de Compostela do Brasil, em Vila Mariana, São Paulo. Assisti e a empolgação
cresceu exponencialmente. Ali obtive uma série de informações, e uma delas foi
de que alguns peregrinos iniciam o caminho francês em Roncesvalles, na Espanha,
e outros iniciam em Sain Jean Pied de Port, na França, atravessando os Pirineus
e a fronteira, e chegando em Roncesvalles no primeiro dia de caminhada.
Basicamente, quem escolhe Roncesvalles não quer ou não pode enfrentar os Pirineus,
que é considerado como uma das etapas mais difíceis do caminho francês, tanto
porque passa por declives e aclives bem grandes e íngremes, tanto por conta do
vento, que vem contra. É recomendável não ultrapassar os Pirineus no inverno (e
acho que hoje em dia é até proibido), por conta da facilidade em adquirir uma
hipotermia e também porque com a neve, você facilmente irá se perder, pois a
pista da estrada fica coberta e a visibilidade fica ruim. Na verdade, até em
outras estações, você só deverá ultrapassar os Pirineus se o tempo estiver bom,
com céu razoavelmente limpo. A neblina atrapalha demais a orientação. Se você
fizer uma consulta na Internet, verá que já existiram uma série de problemas e
acidentes (sendo alguns deles fatais) com pessoas que resolvem atravessar os
Pirineus com tempo ruim.
Na palestra online relatada
acima, perguntei se uma carioca suportaria o frio de novembro no Caminho, visto
que era o mês que eu teria disponível. O Guilherme, que dirige a associação,
disse que era frio, mas nada insuportável, visto que de dia eu estaria
caminhando, e de noite estaria dentro do albergue. Também comentou que em
outubro o céu é lindo. Se você pesquisar sobre a melhor época pra fazer o
Caminho, verá que no verão europeu há super lotação da peregrinação, além de
dias maiores e extremamente quentes. Vale lembrar que a peregrinação tem muitos
trechos sem cobertura de árvores, então você anda exposto. No inverno é uma
época que existem poucos albergues abertos, neve e temperaturas extremamente
baixas. O mais ameno é ir no final da primavera ou início de outono. A época
que eu tinha disponível era a segunda metade do outono, então cada vez mais os
dias iam ficando mais frios. Eu viajei dia 2/11 e cheguei no Brasil no dia
10/12.
Inicialmente, eu não estava muito
certa se faria a viagem sozinha, visto que achava um pouco arriscado, por estar
em outro país, pela peregrinação em si e pela língua. A minha mãe (também conhecida como Popô) se empolgou
pra realizar o Caminho, então achei ótimo, mas achava importante ter alguns
dias sozinha, pelo objetivo da introspecção em si. Como minha mãe tem problemas
no joelho, estávamos tentando desenhar qual seria a melhor estratégia, talvez
sendo que eu iniciasse sozinha, a encontrasse em Burgos, e de lá, ela faria a
peregrinação comigo. Ao longo das nossas pesquisas, teve um momento em que ela
desanimou (pelo frio e pelo esforço físico), depois se reanimou novamente. E
eu, enquanto ia pesquisando e pensando sobre os meus objetivos, cada vez mais
ia me convencendo de que precisava fazer esta viagem completamente sozinha. E
criando coragem também. Então conversei com ela sobre isso (e chorei um
pouquinho depois), e ela entendeu. Por que eu chorei? Não sei! Pelo que tudo
isso representava, talvez!
Descobri que no Rio de Janeiro
também existe uma unidade de outra associação, a AACS-BR, que realiza reuniões
todos os meses na Casa de Espanha. Através do site, solicitei a credencial do
peregrino (ela é necessária para realizar o Caminho, pois nela constam os
carimbos dos albergues, que comprovam que você está de fato peregrinando) e vi
uma lista de peregrinos que fariam o Caminho, separados por mês. Fiquei muito
feliz quando vi que uma pessoa iniciaria também no mesmo dia e local onde eu
iniciaria: 4/11, em Saint Jean. Imediatamente fiz contato com ele – Claudomiro
– que é de Ilha Solteira, SP, e trocamos algumas informações sobre o Caminho.
Consegui ir em 2 reuniões da
associação antes de viajar. Na primeira, vi o clima sensacional da associação,
com palestras, informações e até lanchinho! Fui surpreendida quando chamaram
meu nome no palco (junto com outros peregrinos) para receber a credencial.
Colocaram uma vieira pendurada no nosso pescoço e nos deram a credencial do
peregrino e um kit cheio de mimos, como mini sabonetes, cordão com a cruz de
tau, mini lixa, plásticos para guardar passaporte e dinheiro, protetor
auricular, e várias outras coisas! Nos deram boas vibrações e todos rezamos a
oração do peregrino:
“Ó Deus, que tiraste teu servo Abraão da cidade de Ur dos caldeus,
protegendo-o em todas as suas peregrinações, e que foste o guia do povo hebreu
através do deserto, pedimos que abençoe estes teus filhos que, por amor ao teu
nome, peregrinam a Santiago de Compostela.
Sê para eles companheiro na caminhada, guia nas encruzilhadas, albergue
no caminho, sombra no calor, luz na escuridão, consolo em seus desalentos e
firmeza em seus propósitos; para que, guiados por ti, cheguem incólumes ao
término do Caminho e, enriquecidos de graças e virtudes, voltem ilesos aos seus
lares, cheios de saúde e perene alegria.
Amém.”
Nem preciso dizer que me
emocionei, né? Todo o trabalho da associação é muito bacana. A Inês, diretora,
transborda amor. Ah, pra quem não sabe, a vieira (ou concha) é um dos símbolos
do Caminho, e quase todos os peregrinos andam com ela pendurada na mochila.
Super feliz com a vieira, concedida pela AACS-BR. |
Na segunda reunião, me associei e
comprei um nécessaire que pode ser pendurada aberta, com um gancho, essencial
para momentos em que não temos onde apoiá-la nos banheiros que encontramos no
Caminho. Na hora do sorteio de livros fiz aquele pensamento positivo (já deu
certo em diversos sorteios) e ganhei o “Nossos Caminhos no Caminho”, de Pedro
Salgado Maia. É o relato da peregrinação de um casal, também no caminho
francês. Gostei muito! Como parte da preparação também li “O Guia do Viajante do Caminho de Santiago”, de Daniel Agrela, que minha mãe comprou. Tem várias
dicas e informações sobre cada etapa, gostei bastante também. Dei uma olhada em
um guia em espanhol que peguei emprestado no clube de montanhismo que sou
sócia, a Unicerj, mas esqueci o nome e já devolvi. Cheguei a pensar em levá-lo,
pois tem mapas e informações úteis, mas desisti por conta do peso.
E por falar em Unicerj: sou sócia
deste clube desde 2007. Quando entrei, fiquei uns 2 anos sendo “rata de
montanha”, mas aí a vida de ritmista veio com tudo e começou a ficar
complicado, pois sambista dorme tarde, e montanhista acorda cedo. De lá pra cá
diminuí muito o meu ritmo, e cheguei a ficar 2 anos sem fazer nenhuma excursão!
A meta 2016 é estar pelo menos 1 vez por mês na montanha! A Unicerj é outro
lugar maravilhoso, onde se transborda amor e onde aprendi vários valores,
através do MASENC (Montanhismo Amador Solidário Ecológico e Não Competitivo).
Queria fazer várias caminhadas através
do clube como parte de treinamento, mas só consegui fazer 2: a Travessia
Petrópolis Teresópolis em 2 dias (com muito frio e chuva) e o Capucho do Frade.
Por falar em caminhar, tinha a intenção de caminhar no estacionamento do Wall Mart
aqui perto de casa várias vezes, inclusive com a mochila, mas se fui 2 ou 3
vezes, foi muito. Faltava tempo, estava em uma época muito intensa do trabalho,
e tinha muitas coisas pra resolver. Fiz até uma planilha 1 mês antes de viajar
com tudo que eu tinha que fazer / resolver, e consegui seguir parcialmente.
Capucho do Frade com a Unicerj. |
Travessia Petrópolis Teresópolis com a Unicerj. |
Acampamento na Travessia. |
Travessia Petrópolis Teresópolis - Dorso da Baleia. |
Um dos poucos momentos de boa visibilidade na Travessia. |
Cadastrei-me no grupo do Yahoo da
AACS, e assim que entro, o assunto que está rolando é que haviam localizado o
corpo da Denise Thiem, uma peregrina americana que estava desaparecida desde o
início do ano. Nem preciso dizer que fiquei com um pouco de medo, né? Mas fui
com medo mesmo! Entendi que foi um fato isolado, que o Caminho costuma ser
muito seguro e foquei nisso. Mas eu fiquei alerta. Quando via alguém e
suspeitava de algo, eu repetia o mantra que minha mãe me ensinou: “Jesus vai na
frente, é o meu guia. Concedo-me a Deus e à Virgem Maria”.
Outro ponto que tive um pouco de
medo foi o frio. Escutei alguns comentários como “nossa, quando você for,
estará muito frio”, ou “acho que você terá dificuldades de encontrar albergue”,
e ainda “você vai virar picolé”. Confesso que fiquei receosa, cheguei a
questionar algumas pessoas com experiência no Caminho para tentar me
tranqüilizar, e por fim, resolvi fazer um grupo no WhatsApp com as pessoas da
lista da associação que iriam no período de outono / inverno. Foi ótimo, pois
trocamos várias informações. Conheci outros brasileiros que fariam o Caminho no
mesmo período que eu: um casal (Carol e Diogo) que faria o parcial do Caminho
Francês (inclusive os encontrei na 2ª reunião da associação em que compareci);
Diógenes, que faria o Caminho Português e chegaria em Santiago numa data próxima
à minha; Bruno, que começaria 2 dias depois de mim e Flávia, que começaria
alguns dias na minha frente. E além desses, vários outros corajosos que iriam
em dezembro, fevereiro, e março.
Quanto ao que levar, procurei
seguir a lista da associação e comprei uma série de itens, como mochila, bota,
saco de dormir, roupa apropriada, etc. Meu carro havia sido roubado após uma
trilha em janeiro de 2015, então perdi alguns itens, como mochila e anoraque, e
tive que adquirir novamente. É um investimento que vou tirar muito proveito, em
virtude da prática do montanhismo.
Bom, a preparação foi essa, em
torno de 3 meses. O interessante é perceber que existem pessoas que levam até
mais de 1 ano pra se preparar, e pessoas que decidem tudo em menos de 1 mês. Lembro
de uma situação na segunda reunião da associação, uma mulher ao meu lado
perguntou a quem estava no palco sobre o calçado, a pessoa respondeu que o
ideal era usar por no mínimo 2 meses pra amaciar, antes de realizar o Caminho.
Ela falou, rindo: “Quê????”. Faltavam 15 dias para ela viajar e nem havia
comprado a bota. Quando a encontrei na reunião de janeiro, ela relatou a
maravilha que foi o seu Caminho! Não há grandes impeditivos pra fazer o
Caminho. Não precisa ser atleta, não precisa ser jovem. Acho que o mais
importante é você escutar o seu coração, ter bom senso e conhecer o seu corpo.
Janaina, onde vc comprou a EcoHead?
ResponderExcluirComprei na loja Subsub, no centro: http://subsub.com.br
ExcluirLogo em frente tem outra loja onde comprei muitas coisas também, a AS Divers: http://www.asdivers.com.br/home