quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

2/11 e 3/11 – Rio de Janeiro a Saint Jean Piet de Port

            Saí do Brasil no dia 02/11. No aeroporto, muita ansiedade: minha primeira viagem sozinha! Minha mãe, só sorrisos (de nervoso?). Meu namorado fez piadinha: ela vai mesmo? E brincou de me segurar quando estava entrando na área de embarque. Acertei no tamanho da mochila e bagagem e não precisei despachar a mesma. Queria tentar antecipar meu trem de Madri a Pamplona, e precisava correr, portanto era essencial que não despachasse bagagem. Inclusive, também por este motivo, não levei cajado, além do que esperava conseguir ganhá-lo. Havia lido que faz parte da tradição ganhá-lo, e que existem algumas pessoas (personagens marcantes do Caminho) que presenteiam o peregrino.

Popô
        
Lindinho
Já no avião, enquanto o mesmo se dirigia à pista de decolagem, avistei uma seta amarela no muro. Tive certeza que estava na direção correta! Hehehe... Pra quem não sabe, a seta amarela é um dos símbolos do Caminho, e ela é um dos elementos que te indicam a direção a seguir.
No vôo, comi e dormi bem, matei minha vontade de assistir Frozen, meu nariz secou absurdamente e minha oração pra um bebê parar de chorar surtiu efeito.
            Por questão de preço, minha passagem fazia conexão em Roma. Quando pousei em Madri, coloquei sebo nas canelas pra tentar chegar na estação de trem a tempo de adiantar minha viagem. Eu tinha em torno de 1 hora para isso, visto que meu vôo chegou 10:35, e o trem que eu gostaria de pegar, era 11:35. O objetivo era que quando chegasse em Pamplona de trem, conseguisse pegar um ônibus para Roncesvalles, que tem horário fixo. Infelizmente não consegui, o aeroporto de Barajas é muito grande, e pra sair dele, tive que andar bastante. Cheguei alguns minutos atrasada. Então tive que me conformar de pegar o trem de 15:00. 
            A espera pro horário do trem e do próprio caminho do trem para Pamplona parecia interminável, eu dormia e acordava diversas vezes e parecia que o tempo não passava. Dei aquelas chicoteadas com a cabeça que todo bêbado de sono dá, e bati com a cara na janela do trem.


Almoço na estação de trem: por que os espanhóis comem tanto?

Trem é vida! Como eu queria que o Brasil tivesse uma rede de trens como na Europa!

Partiu?

Pamplona não chega não?

            Antes de viajar, ainda no Brasil, havia recebido através do grupo do WhatsApp, a informação que a Rota de Napoleão (Pirineus) que leva de Saint Jean Piet de Port até Roncesvalles, estaria fechada de 1/11 até março, pelos motivos que expliquei no texto sobre a preparação para o Caminho. Uma brochada tomou conta de mim, visto que dizem que esta etapa é uma das mais bonitas do Caminho. Foi aí que surgiu a grande dúvida: começar em Roncesvalles, ou em Saint Jean, pegando a variante de Valcarlos? Esta dúvida me assolou, pelo seguinte motivo: ir por Valcarlos não é tão bonito quanto ir pelos Pirineus, e na época que eu fui, não haveria mais ônibus para Saint Jean, então teria que “morrer” na grana do táxi. Por outro lado, a idéia de conhecer (mesmo que brevemente) Saint Jean, uma cidade francesa linda, e atravessar a fronteira de um país para outro, era interessante. Fiquei com essa dúvida martelando na minha cabeça por vários dias. A Flávia, que iniciou a caminhada no dia 1 ou 2/11 (não lembro bem), nos informou que o acesso pelos Pirineus estava aberto, mas que ela preferiu ir por Valcarlos (apesar do tempo bom), por cautela. Então havia uma chance, né? Havia um decreto dizendo que a rota fecharia dia 1/11, mas neste dia ainda estava aberta... Estranho...
            Quando cheguei em Pamplona, já era noite, e resolvi “morrer” na grana do táxi até Saint Jean, e pagar pra ver! Melhor do que me arrepender depois. O taxista foi bem rápido, falou pouco, e o céu estava bem estrelado (sinal de tempo bom!). Quando chegamos na França, ele improvisou no francês com uma moradora local e descobrimos que a Oficina de Peregrinos estava fechada, em virtude do horário. Pegamos a informação de onde era o albergue municipal que eu queria ficar, e ele me deixou lá. Quando entrei, vi um monte de peregrinos sentados na mesa da cozinha, e os cumprimentei, meio sem graça. Fiquei olhando ao redor, procurando o hospitaleiro, e eles ficaram me olhando com uma cara de “essa garota é maluca?”. Aí que me dei conta de que eles estavam sentados na mesa com o hospitaleiro, também dando entrada no albergue. Sentei e notei uma dificuldade de comunicação, visto que a maioria das pessoas falava inglês e o hospitaleiro que era francês, não falava tanto inglês. Mas no fim tudo dá certo. Perguntei pro hospitaleiro sobre Wifi, ou computador com Internet, ele não soube me dizer se existia. Nos outros dias percebi que o hospitaleiro era peregrino, pois ele iniciou a caminhada no mesmo dia que eu, achei estranho, mas depois entendi que isto é super comum, visto que o trabalho de hospitaleiro na maioria dos casos é voluntário. Dois coreanos, Kim e Lee, foram super simpáticos comigo e me indicaram que minha cama era em outro pavimento.

            Tomei banho e ajeitei minhas coisas o mais rápido possível, todos estavam fazendo o mesmo. É muita ansiedade pelo dia seguinte, visto que a maioria começa o Caminho ali. Dei notícias pra minha família e pro meu namorado (uhul, gente, toh aqui!) e tratei de tentar dormir. De cara percebi o equipamento mais fundamental para o Caminho: o protetor auricular. Os roncos não eram brincadeira...

Albergue municipal em Saint Jean Pied de Port

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