Como surgiu a idéia de fazer o Caminho e por que fazê-lo?

Bem, muitos têm essa curiosidade, né? O que faz uma pessoa ficar 1 mês caminhando 800 km, cruzando o norte da Espanha de uma ponta à outra?

Pra início de conversa, eu já sabia da existência do Caminho desde sei lá quando. Em 2011, uma pessoa com quem eu trabalhava começou a fazer spinnig na mesma academia que eu como preparatório para realizar o Caminho de Santiago de bicicleta. Aquilo ficou na minha cabeça: taí, boa idéia de viagem. E guardei.

No meio de 2015, eu já havia acumulado 50 dias assinados e não gozados de férias (eu sei, não é certo, mas fazer o que, né?). Estava naquele momento que seria muito bom ter um período sabático pra pensar na vida, por diversas razões. Pra completar, amo caminhar e tinha um sonho de fazer uma viagem sozinha. Meu namorado (vulgo Lindinho) não tinha direito a férias ainda, e nenhum dos meus amigos tiraria férias no mesmo período, então de fato eu teria que viajar sozinha. Juntei todas essas razões e me deu um estalo: vou fazer o Caminho de Santiago de Compostela! E pronto! Fora isso, toda a espiritualidade, história e tradição do Caminho me atraíram, além do convite à introspecção, à coletividade, solidariedade, e ao viver com pouco.

Não tem necessidade que eu explique muito sobre o Caminho, até porque tem muito material na Internet, mas resumindo: é uma peregrinação que existe há mais de 1.200 anos com destino à catedral de Santiago de Compostela, na Espanha, onde supostamente está o túmulo de São Tiago Maior, apóstolo de Jesus. Atualmente, existem vários motivos pelos quais as pessoas fazem (religioso, espiritual, cultural, aventura, ou pela atividade física em si), assim como existem vários caminhos. Eu escolhi o caminho francês, por ser o mais conhecido e famoso, digamos assim. Aqui no Brasil, acredito que o Caminho tenha ficado mais conhecido depois que Paulo Coelho escreveu sobre o mesmo. Eu, particularmente, nunca li nenhum livro do Paulo, mas certamente seria interessante, principalmente agora, após vivenciar a experiência de percorrê-lo.

Sobre a introspecção, ela acaba ocorrendo através do caminhar meditativo. No Caminho, tem momentos que você caminha sozinho e tem momentos que você caminha acompanhado. Cada um tem seu ritmo, e o ideal é que você siga o seu, por mais que tenha viajado com alguém ou tenha feito várias amizades por lá. Durante o dia ou no final dele, todo mundo acaba se encontrando, principalmente se definiu com seus companheiros uma cidade para encerrar a caminhada do dia. Cada um tem o seu Caminho. Essa frase tem mais significado do que ao pé da letra.

Sobre a coletividade e solidariedade, elas acontecem de forma linda através da convivência com peregrinos do mundo inteiro. Ela se dá através dos jantares coletivos, onde os peregrinos se juntam e cozinham uma refeição para todo o grupo, através da partilha do lanche ao longo da caminhada, das dicas sobre como tratar os pés e as dores, dos empréstimos de materiais diversos... Ela se dá na convivência, na divisão do albergue, onde todos dormem juntos, partilham o banheiro, a cozinha, escutam roncos uns dos outros... Na conversa, na amizade, na força para seguir mais adiante, quando você não aguenta mais...

Sobre o viver com o pouco, é um pouco óbvio, né? Quanto menos peso você carregar na mochila, mais tranquilo será o seu caminho. E você percebe que a vida é plenamente possível com poucas coisas. E que menos é mais.