sábado, 24 de setembro de 2016

03/12 – Sarria a Portomarín

            De fato aconteceu o previsto: na reta final do caminho, novos peregrinos surgem, principalmente os espanhóis. No começo do dia conheci o Francesco, muito simpático e que gostava de conversar. Se eu não me engano, ele estava começando ali em Sarria, ou em alguma cidade anterior mais ou menos próxima. Disse-me que já havia feito o Caminho Francês até ali em outro ano, e que agora estava completando. Falou a respeito da crise na Europa, disse que era profissional de TI, mas que agora trabalhava como garçom. Concordamos sobre o desejo de fazer o Caminho mais vezes. “Quanto tempo depois?”, indaguei. Ele disse: dizem que o corpo pede. Concordamos que 3 anos era um intervalo razoável.
            Não lembro se foi nesse dia ou em algum dia anterior que conheci o Vicente, um senhor espanhol budista. Mas diversas vezes caminhei com ele próximo. O dia foi de visuais incríveis, fazendo eu me apaixonar cada vez mais pela Galícia. Teve sol, eu estava feliz...




Saindo de Sarria






Assim que cheguei nesse ponto, o trem passou e tomei um susto.




Pequena Panorâmica











Sombra da peregrina.




Fiquei sabendo que dia 8/12, dia de Imaculada Conceição, era feriado na Espanha. A data cairia numa terça-feira. Dia 6/12 é dia da Constituição Espanhola, também feriado, mas cairia num domingo. Porém os espanhóis “transfeririam” o feriado para segunda-feira, e emendariam um feriadão. Portanto, muitos espanhóis estariam aproveitando o feriadão para fazer trecho do Caminho. E seria um dia de festa na cidade, e provavelmente a catedral ficaria bem lotada. Além disso, no dia de Imaculada Conceição haveria botafumeiro na Catedral em Santiago. O botafumeiro, pra quem não sabe, é um incensário gigante que é balançado em certo momento da missa na catedral, porém isso só ocorre nas missas de 19:30 nas sextas-feiras e em datas comemorativas. Se tudo acontecesse normalmente, eu chegaria em Santiago no dia 7/12. A minha intenção era fazer um bate-volta em Finisterre no dia 8, mas depois dessa informação do feriado, festividades e botafumeiro, decidi deixar Finisterre para um próximo Caminho.
Francesco também falou todo empolgado que o legal seria dormir no Monte do Gozo na véspera da chegada em Santiago, para chegar na catedral logo pela manhã. O Monte do Gozo é um local a 4 km de Santiago de Compostela, e de fato li relatos do quão bacana é dormir por lá na última noite. Francesco chegou a dizer que amigos relataram a ele que os hospitaleiros do albergue municipal do Monte do Gozo eram brasileiros, que faziam feijoada e que por lá rolava sinuca! Eu fiquei maravilhada, mas pesquisei na Internet e vi que ele estava equivocado, ele confundiu com outra cidade do Caminho na qual de fato isso acontecia. Se eu dormisse no Monte do Gozo, só chegaria em Santiago no dia 8, no dia das festividades, talvez estivesse meio confuso e cheio, e não teria 1 dia inteiro pra curtir a cidade, visto que no dia 9 eu voaria de volta pro Brasil. Decidi não dormir no Monte do Gozo. Mas pensei: quem sabe não dou sorte de ter botafumeiro no dia 7? Desta forma eu posso ir a Finisterre no dia 8! Enfim, eram muitas dúvidas, eu queria tudo, mas tinha pouco tempo disponível, hehehe...
Tive um ritmo bom de caminhada, o bate-papo ajudou e o tempo passou rápido. Caminhei próxima de Giovanna e Xeli também em vários momentos do dia. Vimos muitas vacas, Francesco cismou que queria tirar leite das tetas delas, mas desistiu pelo odor extremamente forte. Ele comentou: “todas nos olham!”. Fiquei com peninha delas.

Vaquinhas chegando.


Gosto dessa foto.

Zaninha Peregrina








Xeli e Francesco


Giovanna, Xeli e Vicente

Não dá peninha?


A partir daqui começa uma sequência de Xeli. ;-)




Zaninha Peregrina







Passamos por Barbadelo, Rente, Brea, Ferreiros, As Rozas e Vilachá  e subimos uma grande escadaria ao chegar em Portomarín. Fomos pro albergue municipal, mas lá não tinha Wifi. Decidi procurar um albergue privado, e Francesco também. Vicente, Giovanna e Xeli ficaram por lá. No albergue (Casa Cruz) reencontrei Christian (o peregrino que urrou na mesa de massagem em Los Arcos). Achava que ele já estava bem à minha frente, em função do ritmo de caminhada dele, mas ele relatou que teve algumas dores. Uma peregrina espanhola que conheci dois dias antes também se acomodou neste albergue. Conheci uma dupla de sogro e genro, bem como um peregrino dinamarquês. O sogro estava com sérios problemas em seus pés. Conversavam sobre a possibilidade dele fazer o próximo trecho de ônibus.





Bruxinha


A escadaria.

Ufa!
Com a dificuldade da pronúncia do meu nome na Espanha, eu simplificava pras pessoas falando meu apelido, “Jana”. Francesco simplificou para Joana (nome que existe na Espanha) e consequentemente os outros espanhóis também ficavam me chamando de Joana.
Depois de descansar, tomar banho e etc, fui no bar que pertencia ao albergue para comer algo. Estavam todos lá bem animados, conversando, bebendo e comendo. O peregrino dinamarquês pelo visto havia bebido um pouco além da conta e importunou a atendente, que era extremamente simpática, mas não estava ali para flertar. Ele chegou a puxar ela pela cintura, ela se esquivou e foi bem educada (eu não seria). O cara tinha essas atitudes agressivas e equivocadas e ainda fazia vários comentários machistas. Sério, me deu preguiça e indignação. Comi um hambúrguer meio sem-graça e voltei pro albergue.
Não bastasse terem comido no bar, eles compraram queijos, chorizo, salame, pão, vinho, prepararam omelete com batatas e chamaram a mim e a peregrina espanhola pra esse rega-bofe tipicamente espanhol no albergue. Foi muito bacana, se não fosse o peregrino dinamarquês com seus comentários desnecessários. Depois de um tempo deixamos de falar inglês, passamos a falar em espanhol e português (não propositalmente, foi natural), e ele ficou bem bolado.

Rega-bofe espanhol.

Um brinde ao Caminho de Santiago!

Neste dia, quando me comuniquei com minha mãe, irmã e namorado, disse que só faltava 1 semana para que voltasse, e que eles se preparassem, pois ia enchê-los de beijinhos!