Eu e Giovanna acordamos,
arrumamos nossas coisas e fomos tomar café. Lá estavam Vicente, Frederico, e se
eu não me engano, Xeli também. Tinha algo inusitado para um café-da-manhã: um
líquido de tomate espremido, acho que com azeite, para passar no pão. Delicioso!
Despedimo-nos, e isso é
extremamente esquisito, pois cai a ficha que a jornada pelo Caminho de Santiago
realmente acabou. Como meu trem era bem cedo, quando saí na rua ainda estava
bem escuro. É estranho ver as crianças acordadíssimas nas portas das escolas
com o céu totalmente preto, assim como engarrafamentos de quem está indo
trabalhar. O que dita a vida produtiva não é a luz do sol, e sim o horário.
Peguei o trem para o aeroporto de
Madri e fiz escala em Roma antes de ir para o Brasil, assim como na ida. Em
Roma a fila do controle de passaporte era gigante, e uma outra brasileira que
ia pegar o mesmo vôo que eu estava com medo de que não desse tempo.
Quando cheguei no Brasil, fiquei
um bom tempo esperando o meu cajado vir na esteira de bagagens, e aí quando
lancei um olhar mais aberto no espaço (que eu tive que fazer muito durante o Caminho, para encontrar a direção), vejo que ele estava encostado num balcão,
junto com outros itens que não podem ser colocados na esteira.
Senti uma ansiedade gigante no
coração enquanto me comunicava com minha mãe e meu namorado, que estavam me
aguardando do lado de fora. O Lindinho ainda tentou me trollar, mandando
mensagem que deixava dúvidas se ele realmente estava ali me esperando ou se já
estava no trabalho, mas eu não caí, hehe!
Quando avisto minha mãe, a lágrima
vem naturalmente. Vejo Lindinho com um sorriso lindo e flores na mão. Havia um
papel na mão da Popô onde estava escrito “Zaninha”, e outro na mão do Lindinho
completava: “do meu coração”. Ai, que delícia! Viajar é maravilhoso (ainda mais
no Caminho), mas voltar pra casa e estar com os seus é melhor ainda, né?
Tivemos dificuldade de encontrar
onde Popô havia estacionado o carro. Eu estava radiante, querendo contar tudo.
Senti a realidade do calorão do Rio de Janeiro, mas ao mesmo tempo fiquei feliz
de olhar novamente minha cidade. Lindinho foi trabalhar e fomos pra casa. Só vi
minha irmã à noite, quando ela chegou do trabalho.
Alguns dias depois, prepararam
uma surpresa pra mim. Lindinho inventou que tinha que ir ao shopping comprar
várias coisas pra ele (blusa, perfume), e queria que eu ajudasse. Nunca o vi
tão consumista. E não parava de se comunicar pelo celular. Algo estranho tinha
ali.
Quando cheguei em casa, várias
pessoas queridas e um lanche caprichado! Estavam Kelly, Tio Roberto, Tia Ilce,
Tia Lilian, Luiza e Lucas, além de Popô e Zuzi. Mostrei as fotos, fiz relatos e
foi muito divertido! Lucas demonstrou muitos conhecimentos, inclusive sobre os
Templários, e ao comentar “que altar-mor lindo!”, a Luiza concordou: “é mesmo, o altar
é mó lindo!”. Hahaha, sensacional!
Passados alguns dias, fui
reencontrando meus amigos aos poucos. Agradeci muito à Associação, e
principalmente à Inês, Silvia, Karine, Carla, Claudomiro, Flávio e Diógenes,
que muito me ajudaram. No Natal, mandei mensagem no grupo de Whatsapp perguntando
pelo Roberto, que estava passando o Natal no Caminho. Alguns minutos depois
recebi um e-mail dele, desejando Feliz Natal e dizendo que estava tudo bem no
Caminho, e pedindo que o adicionasse novamente no grupo, pois sem querer havia
saído. Ou seja, ele não viu a minha mensagem perguntando sobre ele, mas minutos
depois me “respondeu” por e-mail. Muito doido esse universo, né? Hehe... Acompanhamos
por fotos os caminhos branquinhos do Roberto e da Rosângela, tão lindos e diferentes do meu!
Inês me convidou para fazer uma
apresentação em uma das reuniões da associação, e assim o fiz, em fevereiro
desse ano, mas cheia de vergonha de falar em público. A minha apresentação foi
objetiva, para falar as particularidades de fazer o Caminho no frio. Roberto estava
lá e também se apresentou, e colocou meu frio no chinelo com suas fotos
repletas de neve, hahaha! Seu relato foi bem emocionante!
Reconheci Fabiano na reunião, e o
cumprimentei. Ele também estava no grupo de Whatsapp e pretendia fazer o
Caminho em março. Dias depois marcamos um encontro, e fomos: Fabiano, Roberto,
Almir (amigo do Roberto interessado em fazer o Caminho), Lindinho e eu.
Conversamos sobre nossos caminhos e passamos boas vibrações para Fabiano e seu Caminho. Ele se mostrou muito grato!
Acompanhamos por fotos o caminho
do Fabiano, Diego e Flávio, e foi muito bacana! 1 ano depois de ter iniciado
meu caminho, acompanhei algumas postagens do caminho do Claudomiro. Ele mesmo,
o primeiro peregrino que eu fiz contato, que iria na mesma época que eu, mas
que teve que adiar os planos. Fiquei muito feliz por ele!
E agora sigo caminhando no
Caminho da Vida, esse tão ou mais fascinante que o Caminho de Santiago. Se
pretendo voltar? Se Deus quiser, quero fazer várias outras vezes, em outras
estações, outros Caminhos (Aragonês, Português, Primitivo, etc). Se eu mudei?
Acho que não tanto, mas certamente internamente algumas coisas mudaram após o
Caminho. Um membro da associação disse-me que o Caminho não terminou, e que eu
ia entender o que isso queria dizer em alguns meses ou anos. Posso constatar
que é verdade. O ano após o Caminho (2016) foi um ano especial pra mim, apesar
de ter sido um ano complicado para nós, brasileiros. Senti-me mais atuante em
minha vida (ao invés de deixar o piloto automático comandar sempre), realizei sonhos,
tive consciência de sentimentos ruins dentro de mim, vi o universo trabalhando
a meu favor, me enviando mensagens... E sei que estou só no começo. Hoje, 1 ano
após o Caminho, posso dizer que estou caminhando mais do que nunca!
O guia do meu Caminho! |