Acordei tarde, e o
peregrino-que-não-posso-dizer-quem-é do relato do dia anterior já estava em sua
devida cama. Percebi que ele ainda não havia limpado o chão nem a roupa de
cama. Fui avisá-lo, e ele simplesmente não lembrava o que tinha acontecido.
Tadinho, ficou super sem-graça e pediu mil desculpas. A galera não perdoou e
deu uma zoada nele. O hospitaleiro chegou e era nítida em seu semblante a
decepção por ter nos dado liberdade. Os meninos não haviam lavado a louça
ainda, conforme o combinado, e o albergue estava bagunçado. Manu perguntou se
eles iriam lavar mesmo. Quando eu saí, eles já estavam se mobilizando pra
arrumar tudo.
O frio deu
uma trégua. Passamos por Puente Fitero, Itero de La Vega e Boadilla Del Camino.
Hoje me assustei com a quantidade de peregrinos no Caminho, e vários deles que
ainda não conhecíamos. Era a galera que tinha um ritmo maior, e acho que neste
dia vinham de Hontanas.
Entrada do Albergue em Castrojeriz |
Quem é o ponto azul no meio do Caminho? Manu! |
7 peregrinos caminhando na mesma visada? Raridade no outono! |
Manu tinha
o hábito de caminhar ouvindo música. Eu não gosto. Prefiro escutar o local. Mas
cantei diversas vezes no caminho. Cantei samba de raiz, samba enredo, Lulu
Santos... Ela comentou como foi agradável caminhar lado a lado com um rio.
Margeando o rio... |
Frómista é
uma cidade bem grandinha, tem até estação de trem. Quando fui pagar o albergue
municipal, que custava 8 euros, eu só tinha uma nota de 100 euros e 7,80 euros
trocados. Expliquei pra hospitaleira meu problema, ela aceitou os 7,80. O
albergue não tinha calefação, e tomar banho foi bem dolorido.
Chegando em Frómista. |
Linha de trem. |
Perdi minha
escova de dentes. Saí do albergue otimista a conseguir sacar dinheiro, portanto
combinei com o pessoal que ia jantar fora com eles depois de receber massagem,
pois tinha visto um anúncio nas proximidades. Fui tentar sacar em 2 bancos, e
continuava não conseguindo. Tentei fazer compra na farmácia (sabonete, escova
de dentes, creme contra assadura, creme dental) e também não consegui. Obviamente
desisti da massagem. Este problema do dinheiro já estava me estressando. Voltei
pro albergue e falei pro pessoal que não iria no restaurante. Eles me
ofereceram dinheiro e insistiram para que eu fosse, mas não aceitei. Comi no
albergue um yakisoba de Cup Noodles e torradas encalhadas (já estavam desde
Pamplona na minha mochila) com cream cheese. Tinha bastante gente comendo no
albergue também. O espaço para comer era o único que tinha calefação, então era
gostoso ficar lá. Um peregrino velhinho me ofereceu um pouco de seu chocolate.
A hospitaleira socializava com alguns amigos.
Envolvi
minha família e meu namorado no meu problema, eles ligaram pra Central de
Atendimento do cartão tentando entender o que aconteceu e tentando resolver o
problema. Já passava pela minha cabeça que se não conseguisse resolver, teria
que interromper o meu Caminho e voltar pra casa, pois nem pra trocar a passagem
eu tinha dinheiro. Minha mãe disse que poderia enviar dinheiro.
O albergue
desligou o wifi 21 hs e não consegui mais fazer contato com minha família. Duas
peregrinas chegaram extremamente tarde, com os lábios roxos. Todo mundo já
estava em suas devidas camas, mas as luzes ainda estavam acesas. Eu indiquei uma
das 2 camas vazias pra uma delas e perguntei se ela estava bem. Ela disse que
sim. Logo depois, pegou um saco lotado de nozes e castanhas com casca , abriu,
e colocou do meu lado, falando: tome! Fiquei até assustada com aquilo, pois me
pareceu um peso desnecessário a carregar, mas peguei algumas e agradeci.