O céu
começou de um jeito que eu gosto muito, misturando azul com rosa, com o sol
ameaçando que ia sair. Mas na direção para a qual eu caminhava, estava nublado.
Não deu outra: peguei uma chuvinha com vento, então mesmo com anoraque e
chapéu, ela molhava o rosto de lado.
Céu Rosa e Azul! |
Além de
Sahagún, que marca o centro geográfico do Caminho Francês, passei por outras 2
cidades, se não me engano eram Moratinos e San Nicolás. O sol acabou aparecendo
depois, mas com muito vento ainda.
Um
transeunte me pediu dinheiro, e eu expliquei que eu também estava com problema
de dinheiro. Pelo caminho é raro ver esse tipo de situação, mas em cidade
grande costuma ter pedinte (muito menos do que vemos pelo Brasil).
Gosto dessa foto! |
Manu havia me falado por Whatsapp
pra ficar no Albergue Santa Clara, que era bom e não precisava lavar a louça,
hahaha! Quando cheguei no albergue, reconheci pela fachada: em um e-mail da
associação, falaram muito bem do café da manhã deste albergue. Disseram que era
6 estrelas. Acabei me dando ao luxo de comprá-lo, mesmo com o dinheiro
apertado. O casal de hospitaleiros era muito simpático, e estavam com uma outra
senhora, acho que trabalhava por lá. Eu perguntei: eu sou a primeira? Ele
respondeu: não se preocupe, daqui a pouco chegam mais.
Chegando em Bercianos. |
Albergue Santa Clara |
Depois de mim, o italiano
Frederico chegou, e o hospitaleiro disse que era a última cama, pois um grupo
havia ligado e reservado. Giovana (italiana) e Xeli (espanhola maiorquina) tiveram que pagar por um quarto mais caro (e também mais
privativo), assim como um casal de italianos.
Comentei com minha família como
estava frio. Por exemplo, no horário que eu já estava no albergue (por volta de
14:30), marcava 8 graus no AccuWeather, com sensação de 3 graus. Os
hospitaleiros nos deram 2 sites muito úteis: www.caminodesantiagotiempo.com
e www.aprinca.com/alberguesinvierno
. Perguntei sobre casas de câmbio para o hospitaleiro, ele disse que só em
Mansilla de Las Mulas.
Com o estômago roncando, esperei
dar 17:00 para colocar pra jogo o que tinha na minha mochila. Fiz torradas e
esquentei atum com cream cheese, milho e salsa. Sobrou milho, e eu perguntei se
o casal italiano queria (eles estavam cozinhando uma refeição que parecia
deliciosa). Eles aceitaram, mas pelo que vi nem usaram no prato, ele apenas
comeu direto no pote. Pensei que eles iriam me oferecer a refeição deles, mas
isso não aconteceu (poxa vida).
Minha refeição. |
De fato na cozinha tinha uma
placa dizendo para não lavar a louça. A hospitaleira explicou que as pessoas
lavavam mal, e que ela preferia colocar tudo na lavadora depois. Contou também
que tirou o microondas da cozinha depois que viu pessoas secando calcinha e
cueca no mesmo. Ninguém merece, né? Ali não era apenas um albergue, mas também
a casa deles. Inclusive a cozinha que utilizamos é a cozinha deles.
Mais tarde chegou o grupo que
havia feito a reserva: eram Bruno e seus amigos. Ele me chamou pra jantar com
eles. Fiquei com vergonha por não ter colaborado financeiramente, mas aceitei
(estava ainda com fome). Na verdade estava torcendo para que isso acontecesse. Filei
sopa, pão e vinho. Foi delicioso! Essa turma é muito animada. Colocaram-me no
grupo de Whatsapp deles, e neste, vi a foto que eles fizeram encenando o quadro
da Santa Ceia. Comédia total.
Hahaha... |
Nesse dia fiquei sabendo do
ritual do brinde dos espanhóis. Aqui no Brasil temos que brindar, beber e
colocar o copo na mesa, certo? Se algo sair dessa ordem, são 7 anos sem, né? Lá
na Espanha (e alguns outros países também), segundo informações daquele grupo,
temos que brindar olhando nos olhos, dar uma batidinha na mesa com o copo, e
então, beber. Na hora do brinde, todos se olhavam uns nos olhos dos outros, de
forma arregalada, pra garantir que não estavam descumprindo o ritual.
Hahahahahha!
Sopinha delícia! |
Esqueci de comentar que na
segunda noite que passei em Carrión, reencontrei Charlotte, a holandesa que
conheci no primeiro dia de caminhada, e que ficou em Estella para cuidar dos
pés. Ela estava caminhando com este grupo animado. Eu não disse que certamente
iria reencontrá-la? Pois então... Hehe!
Bruno comentou que estava nevando
quando ele saiu do albergue em Terradillos (por volta de 9:00). Eu já havia
comentado com ele do meu problema financeiro, ele já havia oferecido dinheiro,
eu recusei, mas neste dia eu aceitei. Ele me emprestou 100 euros. Muito
Obrigada, Bruno! Foi fundamental pra tirar minha agonia e me deixar mais
tranquila.