Foi difícil
pegar no sono na noite do dia 6 pro dia 7. Era muita ansiedade! Mas quando
consegui, dormi bem. Acordei 6:40, 5 minutos antes do despertador tocar. Tirei
a vieira da mochila e a coloquei no meu pescoço, afinal aquele era um dia
especial! Como as meninas saíram do albergue às 8, saí também. Mas elas ainda
foram tomar café. Eu já havia tomado no albergue, então segui sozinha pro
Caminho.
Como ainda
estava escuro, fui pela estrada até o ponto onde eu tinha parado no dia
anterior, ao passar da cidade. Depois disso entrei no caminho propriamente dito
e confesso que senti um pouco de medo, pois ainda não estava claro. Achava que
era a primeira peregrina a ter saído de Pedrouzo, mas depois de um tempo vi um
peregrino na minha frente.
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Ainda bem escuro. |
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Já na trilha, amanhecendo. |
Durante a
trilha, nuvens iam se fechando rapidamente, como cortinas de teatro. Parecia até
a preparação de Deus pro espetáculo. Depois de um tempo, alguns peregrinos me
passaram. Eles tinham muita pressa! Um deles era aquele francês que se
preocupou comigo quando eu tive o problema com dinheiro. Ele estava com os
olhos marejados. Afinal, ele caminhava desde a sua casa, na França. Quando eu
pensava em reencontrar minha mãe, já chorava.
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Ops, quem vem ali? |
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Santiago |
Parei um
momento para lanchar, e comi uma torta de maçã. Quando cheguei no Monte do
Gozo, esperava avistar a catedral. Não enxerguei nada, estava muito nublado. De fato choveu. E foi lindo, para lavar a alma mesmo.
Comecei a
cantar minha música escolhida, “O Que é, O Que é?”, de Gonzaguinha. O choro
vinha e ia, a todo o momento. Quando você entra em Santiago, pensa: Meu Deus,
cheguei! Que nada, a cidade é grande, você ainda vai andar bastante até a
catedral. Um peregrino corria e me pediu pra tirar uma foto dele, logo na
entrada da cidade. Que disposição pra fazer o Caminho correndo.
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Monte do Gozo |
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Descendo rumo à Santiago. |
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Já em Santiago |
Mais
próximo da catedral tinha muita gente. Eu já estava cansada de andar. Muita dor
nos pés, muito cansaço. Quando desço a escada ali na lateral da catedral,
entrando na Praça do Obradoiro, há uma pessoa tocando harpa. O coração não
agüenta, ali desatei a chorar que nem uma criança.
Quando me
coloco de frente pra catedral, olhando pra ela, mais choro, muito choro. E
estou chorando agora ao escrever esse relato, só de lembrar. Recolhi minha
cabeça pra baixo chorando mais, segurando o cajado com as duas mãos. E de
repente escuto: “Jana!”. Era a voz da Manu, que estava junto com Kim, Lee, Jung
e David, que haviam chegado 1 dia antes. Vieram me abraçar e aí chorei mais
ainda. Que recepção! Enviada por Deus, não é não? Não via Kim e Manu desde a
metade do Caminho, Lee e Jung encontrei 1 vez depois desse tempo sem vê-los, e
David conheci justamente na segunda metade do Caminho. Quem diria que estariam
ali em frente à catedral no exato momento em que eu cheguei? Deus os colocou
ali para que eu fosse recebida de braços abertos e com uma recepção calorosa.
Logo depois, escuto um senhor perguntar pra um deles: é a Janaina? Quando olho,
pergunto: Diógenes? Era ele mesmo, um peregrino brasileiro que fez o Caminho
Português, havia chegado em Santiago há alguns dias e estava no grupo de
Whatsapp que eu criei. Outra recepção maravilhosa! Ele conversou comigo, falou
de um parque público da cidade, e me levou na Oficina de Peregrinos. Muito
obrigada pelo carinho, Diógenes! Ele se despediu, carimbei minha credencial e
peguei minha Compostelana (que orgulho). Deixei a mochila em um local que cobra
por isso, pois não podemos entrar com ela na catedral. Lá, encontrei aquele
casal simpático com quem visitei o Monastério de Samos. Eles pediram pra tirar
uma foto comigo, como recordação, e fiz o mesmo.
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Chegueeeei! Cara inchada de tanto chorar! |
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Manu, Lee, David, Jung. |
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Casal simpático! |
A catedral
estava lotada de turistas, com filas. É impressionante como de repente você
deixa de ver tantos peregrinos, pois os turistas predominam. Fui cumprir as
tradições do peregrino. Visitei o sepulcro do Santo e rezei um pouquinho.
Entrei na fila pra abraçar Santiago. A imagem era linda, inclusive por trás,
que é por onde você passa para abraçá-lo. As pessoas abraçavam muito
rapidamente ou só tocavam. Abracei e comecei a chorar muito. Fiquei um tempo
agarrada nele. Muito obrigada por essa experiência maravilhosa, Santiago!
Obrigada por me guardar durante todo o Caminho!
Não bati a
cabeça na do Mestre Mateo, pois o Portal da Glória estava em obras. Esse é mais
um ritual dos peregrinos, para receber a sabedoria desse arquiteto (Mestre
Mateo), autor do Portal da Glória. Saí da catedral e andei bastante para achar
um ponto pagador e pegar o restante do meu dinheiro (Lindinho havia solicitado
novo saque emergencial). Depois disso, procurei a Casa do Peregrino, pensão que
foi indicação daquele casal brasileiro que conheci em Burgos. Avisei família e
amigos da conclusão do meu Caminho, muito feliz!
A missa foi
muito emocionante. Eu sentei na lateral, mas quando vi dois peregrinos
conhecidos nas cadeiras de frente para o altar, fui pra lá. Foi uma ótima
escolha, explico o porquê no relato do próximo dia. O altar aceso é mais lindo
ainda. Aqui vai uma homenagem para Luiza e Lucas: que altar mó lindo! Ops, quer
dizer, que altar-mor lindo! Na missa eles falam de onde são os peregrinos que
chegaram naquele dia, e onde começaram. Falaram que tinha gente do Brasil que
começou em Saint Jean. Dá vontade de gritar: sou eeeeu!!! Falaram também de
peregrinos brasileiros que começaram em outras cidades, mas não consegui entender
e identificar quais eram. A peregrina espanhola teve que sair no meio da missa,
pois tinha horário pra viagem de volta pra casa.
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Santiago |
Em algum
momento do dia eu havia encontrado o Vicente, que acabara de chegar, e disse
que iria dar uma volta ao redor da catedral, em sentido horário, com o ombro
direito voltado pra catedral, conforme tradições budistas. Depois da missa o
encontrei e fomos jantar na Casa Manolo, por indicação dele. Escolhi caldo
galego de entrada (delícia, lembra o caldo verde e tem feijão branco) e um
escalope como segundo prato. Não agüentei comer tudo, os pratos são muito bem
servidos!
À noite na
pensão, estava zapeando na TV quando reconheci uma paisagem. Era um
documentário sobre o Brasil. Falou das favelas do Rio de Janeiro, falou da
contaminação das águas...
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Meu quarto na Casa do Peregrino. |
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Compostelana e Credencial carimbada. |