terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

6/11 – Zubiri a Pamplona

O trecho de Zubiri a Larrasoaña deixa claro que nem tudo são lindezas no Caminho, pois passa por uma zona industrial onde está instalada a Magnesitas Navarras. Este é um dia também em que começa a aparecer a arquitetura de pedra sem revestimento (linda!).

Magnesitas Navarras




Espantalho





Além de Larrasoaña, passamos pelas cidades (ou pueblos) Akerreta, Zuriain, Brotz, Trinidad de Arre e Burlada. A impressão que dá em algumas é que estamos em uma cidade fantasma. É estranho notar casas super bem conservadas e quase ninguém nas ruas. A verdade é que existem pueblos que só não morrem por conta da existência do Caminho. E na temporada de inverno, muitos estabelecimentos estão fechados: não só albergues, mas também bares, restaurantes e mercados. Esse é um ponto “ruim” de fazer o Caminho nesta época, mas por outro lado, é mais introspectivo, você não enfrenta filas para tomar banho e lavar roupas e nem precisa “correr” para conseguir um bom lugar no albergue.


Né?

Toma um beijinho, miga.



Não dá vontade de morar em uma dessas?








Escultura do Peregrino






No trecho antes de chegar em Trinidad, parei para descansar em uma área verde de lazer que possui mesas e churrasqueiras, e havia alguns espanhóis fazendo um churrasquinho naquela tarde de sexta-feira. O cheiro estava delicioso, mas não me ofereceram nada... Poxa vida... O momento de descanso ali foi quase um paraíso: tirei os sapatos e massageei meus pés, deitei em um banco e fiquei tomando um solzinho.
Lembra que na postagem sobre a preparação eu contei sobre o meu receio de estar sozinha, em função do ocorrido com a Denise Thiem? Pois é. Acontece que quando eu via na trilha alguém que ainda não conhecia e não tinha certeza se essa pessoa era peregrino, pois ainda não dava pra identificar de longe, eu rezava o mantra que minha mãe me ensinou e procurava manter uma distância. Neurose? Só um pouquinho... Em alguns momentos que não tinha visibilidade, eu aproveitava pra dar uma corridinha e ganhar uma distância. O mesmo acontecia quando aparecia uma subida: eu corria, achando que estava disfarçando bem para pegar impulso na subida... A-hã... Eu fiz isto neste dia, e quando parei mais à frente onde havia um rapaz vendendo frutas no meio da trilha, o “suspeito” passou junto com uma peregrina conhecida e eu vi que se tratava realmente de um peregrino. Acontece que era o Jean, um peregrino francês que fiz amizade posteriormente... Vários dias depois, ele me falou: “Ok, agora eu posso perguntar. Teve um momento que eu te vi correndo na trilha. Era por minha causa?” Eu, super sem graça, respondi: “que nada, estava pegando impulso”. Jean, se você estiver lendo isso, me desculpe. Que vergonha... Acontece que estava receosa, em função do ocorrido com a peregrina americana.

Churrasquinho rolando...



Em Trinidad também fiz um descanso bem curtido. Deitei num gramado de uma praça e fiquei relaxando. As pessoas falam que Pamplona é a primeira cidade grande do caminho francês na Espanha, mas Trinidad, que está antes de Pamplona, também tem um tamanho considerável.

Chegando em Trinidad.

Coleta de lixo


Pausa pra descanso

Minha mochila e a vieira.

Peregrinos tomando um solzinho.




Sinalização do Caminho


O problema de cidade grande é que quando você entra na cidade você pensa: cheguei! Ledo engano, querida. Ainda tem que andar muito pra estar no centro da cidade. O albergue municipal Jesus y Maria parecia que não chegava nunca. Ao mesmo tempo em que você já está de saco cheio disso, você fica admirando aquele ambiente de metrópole que não vê há 3 dias. Olha praqueles barzinhos no centro histórico e pensa: que legal, civilização... Hehe, brincadeira. Escutei muitos peregrinos dizendo que não gostam dos momentos do Caminho em que passam pelas grandes cidades, porque quebra o clima. Fora que ver carros e carros também não é legal. Mas quer saber? Eu gostei! É um contraste bacana, e tem muito monumento pra visitar, ou só olhar. Os peregrinos que também gostam e possuem tempo pra investir nos passeio culturais, ficam mais de 1 noite nestas cidades.

Opa, tah perto! Não, pera...






É aqui o albergue? Diz que é aqui, por favor!

Centro histórico de Pamplona.

Catedral como ponto focal.

O albergue é bem grande e você se assusta um pouco com a quantidade de gente nova, pois muitos peregrinos também iniciam em Pamplona, a capital da Navarra. Consegui cama embaixo pela primeira vez, uhul! É um certo martírio ter que subir escada de beliche quando você está com as pernas e pés doendo...

Albergue Jesus y Maria

Albergue Jesus y Maria


Bernard, um peregrino espanhol, me contou que também havia uma peregrina brasileira, a Mariana, e me descreveu quem era. Pensei: que legaaaaal, alguém do Brasil! Quando a vi no computador, perguntei se era ela. Ela é paulista e iniciou o Caminho 1 dia antes de mim, também em Saint Jean. E olha que loucura: ela pegou o tempo nublado nos Pirineus! 1 dia faz diferença...
Dos 4 albergues que eu já havia ficado até o momento, 3 eram com o chuveiro com temporizador, e isso se repetiria em vários outros albergues ao longo do Caminho. Este detalhe irrita um pouquinho, pois você tem que apertar o botão várias vezes, mas depois acaba se acostumando. Mas nenhum superou o do albergue Jesus y Maria. A ducha dura 2 segundos. Juro! Pra lavar a cabeça, tive que apoiar as costas no botão. Claro que é uma medida pra racionar água, mas neste caso, chega a ser judiação. É pra manter o peregrino alerta, pra que ele não fique morgando no banho, e pra lembrá-lo: está achando que isso aqui é moleza? É peregrinação! Você não está em hotel não, querido! Hahaha... Quando você está num albergue com ducha boa e sem temporizador, você se sente num hotel de luxo...
Não tive tempo pra conhecer nenhum monumento cultural, pois já estava anoitecendo. Fui jantar na rua, num local que tinha panfleto no albergue. Era um pouquinho afastado. Os garçons eram muito simpáticos, e se surpreenderam pela peregrina gringa “falar espanhol”! O menu do peregrino em todo o Caminho tem 2 pratos, pão, água e/ou vinho e sobremesa. Em alguns restaurantes (era o caso desse), eles abrem a garrafa de vinho e deixam à sua disposição na mesa. Tudo isso na faixa de 8 a 13 euros. É muita comida pra mim, mas é difícil escolher outra coisa, pois esta é a opção mais em conta (custo/benefício)... Foi um momento delicioso, e é quase um presente que você se dá: jantar com calma e sozinha depois de um dia tão exaustivo. Mas ao mesmo tempo, o cansaço bate, ajudado pela comida que é tamanha. Falei com minha família: estou morta. Mas “tá tranquilo”, faltam aproximadamente 30 dias, é “só” 10 vezes mais do que fiz até agora.

4 comentários:

  1. Nossa, foram tantas informações diferentes nestes que até me confundi na hora de comentar! Mas acho que a questão da segurança o "medinho" o mais notável aqui. No final a gente acaba criando meios para poder garantir a segurança por estarmos sozinhas (eu por exemplo, costumo ir para o meio da rua dependendo do local rs!). Adorei também essa história da sinalização do caminho - parece o livro Anjos e Demônios!!
    O blog está maravilhoso e as intercalações com as fotos fazem a gente se sentir lá por ficar tudo tão fresquinho, rs!

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