Se tem uma
coisa que você também faz no Caminho é dormir. Esta noite por exemplo, fui
dormir às 21 hs e acordei quase 7 hs, ou seja, 10 horas de sono. O mínimo que
dormi em todo caminho foram 8 horas, e em alguns dias cheguei a dormir 11 ou 12
horas. O cansaço ajuda, a falta de TV te faz sentir sono mais cedo, e em alguns
pueblos não tem nada aberto além do albergue. Se foi um dia que você chegou
cedo no albergue então, melhor ainda. O que você geralmente tem a fazer quando
chega é tomar banho, arrumar suas coisas, lavar sua roupa, comer, escrever,
ler, papear com os peregrinos, pensar sobre a vida... Tem muitos peregrinos que
assim que chegavam da caminhada, se tacavam na cama e tiravam uma soneca, pra
depois cumprir sua rotina. Eu quase nunca fiz isso, preferia ir dormir de uma
vez, mais tarde.
Lembra da
história que contei na última postagem sobre São Veremundo de Irache? Pois é, depois
de passar de Ayegui, chegamos num local onde todos os peregrinos anseiam
chegar: a fonte de vinho das Bodegas Irache. É isso mesmo que você leu, vinho
de graça, saindo de uma torneira. Que maravilha, né? Um carinho pro
peregrino... O vinho não é um supra-sumo, mas é gostoso. Os espanhóis disseram
que a marca tem boa reputação. E cai beeeeemmm... Fiquei relaxadona e fui
caminhando leve, no brilho, feliiiz... Eu não tinha copo, peguei um emprestado
com um bicigrino. Há uma placa informando que não pode encher garrafa e há
câmeras. Mas Lee não fez cerimônia e encheu uma garrafa, hahaha!
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Patinhos |
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Vieira - sinalização. |
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Ahhh, o que esperávamos... |
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Vinho direto da torneira! Uhuuul! |
Sobre as
fontes, há fonte de água por todo o Caminho, ou seja, você não precisa levar
grande quantidade de água na mochila. Como eu não sou uma boa bebedora de água
(isso é ruim), eu nunca usei nenhuma fonte. Enchia na torneira do albergue as
minhas 2 garrafinhas que totalizavam 1 litro, e era isso que eu bebia durante a
caminhada. Se fizesse o Caminho no verão, certamente eu iria recorrer bastante
às fontes.
Além de Ayegui, passa-se por
Azqueta e Villamayor de Monjardín. O tempo estava uma delícia pra caminhar -
sol com friozinho - e meu corpo estava reagindo bem, só senti dor no final
(será que o vinho me anestesiou?). Tiramos ótimas fotos caminhando num
descampado. Em um momento, quando Bram, Jappie e eu estávamos lanchando, Jappie
fez um sanduíche (bocadillo) de tomate e cream cheese. Vixi, que combinação
perfeita! Perdemos Charlotte, pois ela optou por cuidar de seu pé, que tinha
muitas dores, e não quis caminhar neste dia. Se eu não me engano, ela ia
procurar atendimento médico. Foi uma pena... Este é o Caminho imitando a vida,
que tem encontros e desencontros... No albergue havia me despedido dela falando
que com certeza a reencontraria, pois eu tinha 2 dias de crédito para algum
descanso ou imprevisto.
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Hortinha |
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Turma Italiana - com Manu. |
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Tinha uma pedra no meio do caminho... |
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É caminhando que se faz o Caminho... |
Quando terminamos o lanche,
encontramos um peregrino português (já senhor de idade) que estava fazendo
caminho ao contrário. Relatou que não tinha dinheiro e que estava contando com
a ajuda das pessoas, e nós também demos dinheiro a ele. Ele informou que houve dia
em que só comeu uvas, colhidas das plantações, e que em algumas noites dormiu
na rua. Eu falei que ele poderia explicar nos albergues a sua situação, e
certamente deixariam que ele dormisse, mas ele disse que não ficaria com a
consciência tranquila, como se estivesse devendo algo. Ah, ele também falou mal
do Paulo Coelho. Jappie e Bram não entendiam nada do que ele falava.
Fiquei no albergue Casa de
Áustria, um albergue com um salão extremamente aconchegante. Os hospitaleiros
não falavam tão bem espanhol. Perguntei sobre os serviços de massagem pela
cidade que estavam no mural, a hospitaleira informou que não tinha nenhum no momento
por conta da baixa temporada, mas que o seu parceiro fazia, e que era bem
forte. Perguntei o valor e ela respondeu: donativo.
Fiquei na dúvida se fazia ou não
a massagem, fiquei um pouco com o medo do “bem forte” e não sabia exatamente
quanto deveria pagar. Quando assisti Bernard (espanhol) e Christian (alemão)
urrando na mesa de massagem, desisti. E o hospitaleiro pelo visto tinha um certo
prazer com aquilo. Falava, com os olhos esbugalhados: é, tooodos choram na
minha mão. Eu, heim. Hahahahahaha...
Quando fui na rua, encontrei
Jappie e Bram, que acabaram ficando em outro albergue (apenas eles e um
peregrino mexicano, que luxo). Fomos procurar um lugar para comer, mas andamos
bastante e quase tudo estava fechado, por ser o horário da siesta (sim, aquela
soneca depois do almoço em que vários estabelecimentos fecham). Eu estava roxa
de fome, e o albergue não tinha cozinha. Encontramos um lugar perto da igreja,
onde já estavam Deborah (suíça), Christian, Hiram (um peregrino americano muito
simpático) e o peregrino mexicano. O menu do peregrino de lá era muito gostoso.
Tinha um risoto delícia. Ficamos ali comendo, bebendo vinho, conversando,
rindo e sentindo frio. O pôr do sol foi um espetáculo à parte com a silhueta da
igreja. Todos sacaram suas máquinas. Deborah zombou: ahhh, ninguém nunca viu o
pôr do sol... Levantei pra ir fazer compras, mas antes quis conhecer a igreja
por dentro. Simplesmente linda. Mal pisei dentro da igreja, comecei a chorar
que nem uma criança. Não conseguia entender porque aquilo estava acontecendo.
Acho que eu buscava perdão por me cobrar tanto na vida, sei lá. O silêncio lá
dentro era absurdo. Eu tentava segurar o barulho do choro, pois tinham algumas
pessoas trabalhando lá. Devia ter ignorado isso e deixado o som se propagar. Eu
estava tipo uma criança que quer o colo do pai ou da mãe. E era exatamente o
que eu queria, né? Do Pai Nosso...
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Parte externa do albergue Casa Austria. |
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Já em Los Arcos. |
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Risoto delícia... |
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Mutcho bom! |
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Igreja de Los Arcos. |
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Pôr do Sol e silhueta da igreja. |
Pergunta do post anterior respondia...
ResponderExcluirConfesso que estou deliciada com a questão do vinho todo dia, uma maneira mais rápida de relaxar e esquecer das dores iniciais não?
Além de, como você mesma disse, brindar mais um trajeto vencido!
É uma delícia, fora que o vinho lá é bom e barato!
ExcluirAtualizado!!!
ResponderExcluirbjoosss