quinta-feira, 17 de março de 2016

12/11 – Nájera a Santo Domingo De La Calzada

            Acordei com o despertador, às 8 horas. Queria continuar na cama, mas resolvi levantar. Conversando com o Bram pelo Whatsapp fiquei sabendo que todos estavam no albergue municipal. Entendi como uma providência divina o fato de não ter localizado o albergue no dia anterior, pois eu estava tão estrupício que precisava daquele presente (dormir no hostel).
            Quando fui na recepção pagar, não tinha ninguém. Uma menina que estava por lá se apresentou como peregrina, mas ela devia ser turisgrina, pois nunca a tinha visto desde que comecei o Caminho, assim como não a vi depois. Provavelmente ela ficava sempre em hostel, ou algo parecido. A dona do hotel (filha dos donos) atende na recepção, e naquele momento estava limpando os quartos. Bem diferente do que estamos acostumados a ver no Brasil, né? E não foi a única vez que vi algo parecido por lá. Subi para encontrá-la, e a vi saindo de um quarto. Ela falou: fiquei atenta, mas mesmo assim não escutei você descendo! Ela perguntou se eu queria tomar café no hostel, mas como eu estava meio mão de vaca por já ter desembolsado 30 euros naquela hospedagem, eu neguei.
            Saí à procura de um café, mas não encontrei. Arrependi-me da pão-durice. Parei num banco de praça para desayunar  a comida que eu tinha na mochila. Comecei a caminhar às 10 horas, me sentindo muito bem! Ufa, o descanso valeu a pena!


Outra foto de Nájera, agora sem a tensão do dia anterior.










            Parei em Azofra, comi um pão na chapa, tomei um suco e aproveitei o wifi para me comunicar com minha família. Foi um dia bem mais fácil comparado com o dia anterior. Terminei com dor, mas foi mais leve. Passa-se por Cirueña antes de chegar em Santo Domingo. Cirueña tem um campo de golf, carrões e casas bem bonitas. Esse dia também é marcado por um descampado enorme e lindo.

Azofra

Pimentas lindas!








ULTREIA!

Cirueña



Campo de Golfe


Cogumelos



            Uma coisa muito comum no Caminho, é que apesar de ser bem sinalizado, às vezes você não encontra a sinalização. Aí você para e observa. Com calma... Fica ali, apreciando a paisagem. Uma hora, com certeza, vai aparecer o sinal. Isso é muito bacana, porque você faz analogia direta com a vida. Quando você não sabe que direção seguir na vida, a melhor coisa é parar e observar com calma, que certamente você enxergará o sinal! E também pra perceber que certas coisas só notamos se olharmos com mais atenção. Pois bem. Neste dia, teve um momento que cheguei no fim de uma via, e tinha a opção de dobrar pra direita ou pra esquerda, mas não vi nenhuma sinalização. Fiquei ali, esperando meus olhos localizarem algo. Mas nada... Pensei: não é possível... Até que de repente, quando por acaso olho pro chão, vejo um grupamento de pedras formando uma seta! Ri daquilo, e pensei: caramba, ninguém me avisou que teria este tipo de sinalização! Quando digo ninguém, não me refiro aos peregrinos que estavam no Caminho. Refiro-me aos relatos que li, às pessoas com quem conversei... E temos que reconhecer que se passa um trator por ali (o que é comum por lá, por ser região agrícola), destrói a sinalização. Mas fiquei feliz por ter olhado pro chão! Hehe...

Que bom que enxerguei esta sinalização...

            No dia anterior, havia postado algumas fotos no Facebook. A Fernanda, filha da amiga da minha mãe (Noemia), perguntou nos comentários: “já encontrou com as bruxas? Um amigo meu disse que é sinistro, que passou por uma velhinha e depois a encontrava mais à frente, e pensava: como ela conseguiu me ultrapassar, se não a vi passando?” Fiquei com aquilo na cabeça, pensando: ih caraca... Será? Quando estava caminhando no descampado, avistei de longe um suposto peregrino parado que eu não reconheci. Quando cheguei um pouco mais próximo, vi que era uma menina. Quando me aproximei mais ainda, percebi que era uma senhora, com os cabelos grisalhos presos num coque. Pensei: caramba, é a bruxa! Aproximei-me, toda receosa, já pronta pra falar “Buen Camino” e picar minha mula pra frente, mas quando ela me cumprimentou, com uma cara super cansada, ao mesmo tempo ela deixou cair a água que estava bebendo, em cima de sua mochila. Rapidamente eu levantei a mochila, pra que não continuasse molhando, pois ela não teve reação rápida. Ela me agradeceu e perguntou se faltava muito. Eu disse que achava que não, em torno de 4 km. Era visível que estava duro pra ela. Desejei “Buen Camino” (agora sim) e segui.




Olha ela lá!



            Periodicamente, eu olhava pra trás, pra verificar se ela tinha desaparecido (vai que era bruxa mesmo, disfarçada de peregrina? Haha). Ela sempre estava lá, com uma distância considerável, um pouco mais atrás. Quando finalmente cheguei em Santo Domingo, ela me alcançou, e chegou do meu lado. Eu olhei pra ela e ela estava com uma cara meio chorosa, e me disse: Gracias... A minha reação foi dar aquele abraço de lado, pra confortá-la. Ela disse que eu lhe dei forças pra continuar, pois eu estava sempre olhando pra trás, para verificar se estava tudo bem com ela, e se ela estava vindo... Caramba, que vergonha, mal sabia ela que na verdade eu estava olhando pra trás pra verificar se ela tinha desaparecido, achando que ela era uma bruxa... Quando chegamos no albergue, ela relatou tudo pra Bram, e disse que eu fui como um anjo pra ela. Caramba, Deus é o máximo mesmo, né? Colocou-me como anjo da minha bruxa! Hahaha!
Ela arriou na cama e capotou. Tadinha, estava exausta. Aquele dia foi duro pra ela. Isso é algo interessante também de observar. Às vezes um dia duro pra você no Caminho é tranquilo pro outro, e vice-versa. Não se engane achando que nos Pirineus será a etapa mais difícil, como falam. Comigo, não foi. Meu dia mais duro foi o anterior descrito neste blog, 11/11.






Santo Domingo De La Calzada

Na próxima postagem explico sobre esse galo.

Monastério



Meu namorado me avisou: você já ultrapassou a barreira dos 200 km. Minha mãe completou: já chegou em Unamar! Hahaha... Como eu estava feliz por uma etapa mais tranquila, resolvi me aventurar na gastronomia. Fui no mercado e comprei coisas para fazer hambúrguer. Eu nunca tinha feito, e na hora de moldar e colocar na frigideira, Ferdinand (o peregrino mexicano) me deu uma ajuda. Os meninos fizeram uma massa. Compartilhamos nossas refeições, e foi extremamente agradável. Que feliz!

Preparativos pra refeição.

Hambúrguer pronto pra ser moldado.

Chefs



Passei no Masterchef?

Estava uma delícia!

Jappie, Ferdinand, Jean, Bram.


Canadá, Brasil, Coréia (Kim), Japão.

Que alegria!

:-D



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