Na noite do
dia 13/11 pro dia 14/11 senti bastante frio. Foi um momento que eu pensei:
chega, quero minha mãe! Questionei-me: o que estou fazendo aqui? Mas aí você
pensa: não, é claro que eu quero continuar! Foi o único momento do Caminho que
eu pensei “já deu”, mas segundos depois já mudei de idéia, lembrando dos
motivos de estar ali.
Assim que
acordei, vi as mensagens do meu namorado me falando dos tristes atentados em
Paris, da noite anterior. Alguns peregrinos já sabiam, outros não. Ficamos
perplexos, preocupados, principalmente com os peregrinos franceses, por conta
de suas famílias. Meu namorado chegou a questionar se era seguro seguir
caminhando. Eu falei: cada vez que eu caminho, eu me afasto mais da França. E
aqui é no meio no nada, pueblos mais vazios em sua maioria, então não são
lugares interessantes para terroristas. É verdade que em 2 dias chegaríamos em
uma cidade grande, mas me senti segura para seguir.
O espanhol Bernard se despediu de
nós. Não caminharia mais. As férias dele estavam acabando, ele pretendia chegar
até Burgos (mais 2 dias), mas não daria tempo, então pegaria um ônibus até lá e
encerraria seu caminho, para depois passar 1 semana com a namorada. Ele já
havia feito em outro ano o caminho de Burgos até Santiago de Compostela. Luxo
que os espanhóis podem se dar. A despedida dá um certo vazio, a gente percebe
que realmente não verá mais aquela pessoa. É diferente de não ver mais porque
vocês seguiram em velocidades diferentes no caminho, visto que sempre há a
possibilidade de rever.
O trecho
normal deste dia pra quem começa em Belorado, seria parar em San Juan de
Ortega. É considerado um trecho difícil, com subidas. Mas já sabíamos que não
havia albergue aberto por lá, então teríamos que seguir mais 4 km e ficar em
Agés. Então já comecei o dia pedindo pensamentos positivos pra minha família, pra
eu alcançar este objetivo. Tomei café no albergue, com as minhas
coisas, e parti.
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Parquinho |
Neste dia comecei a perceber
como a presença ou ausência do sol influenciava no meu humor. O sol voltou, e
meu humor melhorou demais. O tempo bom me dá mais forças pra seguir. Claro que
não estamos falando do sol escaldante do verão do Rio de Janeiro. Este não dá
forças nenhuma, só dá moleza. Estamos falando daquele solzinho gostoso que
diminui a sensação de frio.
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Céu de brigadeiro de voltaaa! |
Passamos por Tosantos,
Villambistia, Espinosa Del Camino, Villafranca Montes de Oca e San Juan de
Ortega. Foi um dia com paisagens belíssimas: cadeia montanhosa, bosque e uma
pista larga. Na noite anterior, Bernard havia perguntado que estilos musicais
os coreanos gostavam. Lee respondeu: eu gosto de hip hop! E rapidamente colocou
algumas músicas, inclusive em coreano. Achei aquilo o máximo, e comecei a fazer
aquela dancinha com a mão à frente, e Lee me acompanhou. Ri muito. No dia
seguinte (o dia que estou relatando agora), Lee tirou uma foto encenando a
dancinha, conforme minha sugestão. Hehehe!
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Que amor... |
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Peregrinos lanchando... |
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Descansar é bom, né? |
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Vistão... |
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Jappie e Manu. |
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Kim, Lee e Bram. |
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Lee só no Hip Hop, hehehe! |
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Pistão! |
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Escultura de peregrino |
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San Juan de Ortega |
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Zaninha Peregrina |
Cheguei bem em Agés, mas com os
pés doendo, como sempre. Tinha um albergue privado aberto logo no começo da
cidade, o San Rafael. Como estava cansada, resolvi ficar por lá, ao invés de
procurar o municipal. A hospitaleira é uma senhora que demonstra um ar um tanto
superior, meio que querendo se impor, mas muito gente boa, meio “mamma”. Faz um desenho de coração com
olhos e boca na sua credencial. Quando ela falou o preço (10 euros), eu devo
ter feito uma cara de assustada, ao que ela completou: mas temos roupa de cama
limpa e trocada todos os dias! Os coreanos já estavam lá (Kim, Lee e Jung), e
dividi o quarto com eles. Os quartos era pra 4 e com banheiro privativo, muito
bom! Lee me ofereceu pra ficar na cama de baixo, e eu aceitei, por conta do
cansaço. Kim brincou: “gentleman, gentleman...” Hahaha! O restante do pessoal
havia seguido pro albergue municipal.
Na janta, tomei uma sopa de alho
deliciosa. O hospitaleiro que serviu nosso jantar era muito engraçado, ficava
brincando. Ele nos proibiu de olhar no celular enquanto jantávamos. Conhecemos
o Maximiliano, um argentino que até então não havíamos encontrado. Ele relatou
o dia que começou em Saint Jean, era alguns dias depois de nós, então perguntei
quantos km ele andava por dia, e ele respondeu: 40! Eu disse: Meu Deus! Aí ele
bateu na perna dele, como quem diz: são fortes! Hahaha! Contou que mora em
Maiorca, onde tem um bar na praia. Maiorca é uma ilha espanhola muito
turística, dizem que os ingleses e alemães curtem muito o verão por lá.
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Sopa de Alho |
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Jantar |
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Nos separamos neste dia, snif! |
Maximiliano fez uma observação muito
interessante e pertinente, visto que já havia feito amizade com outros
coreanos. Comentou que diferente dos espanhóis, que no geral sentem a
necessidade de reforçar sua masculinidade, meio “el toro”, meio macho alfa; os coreanos no geral são super amáveis,
educados e sensíveis. Eu respondi: tenho que concordar contigo!
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