Pra não correr o risco de acordar
tarde, neste dia coloquei o celular pra despertar. Dei uma volta em Logroño
para conhecer os monumentos. A cidade é bem bacana, tem vários atrativos
culturais, dá vontade de ficar mais 1 dia, mas eu preferi seguir caminhando.
Fui conversando com Bernard, um peregrino espanhol que trabalha com turismo.
Ele leva turistas para dar uma volta em Barcelona (amo!) naqueles skates
motorizados, e nisso, vai apresentando a cidade. Conversamos bastante sobre as
diferenças da vida espanhola e brasileira, foi bem agradável. Quando chegamos
num parque verde grande e bonito, no fim da cidade, Débora avisou: ainda nem
saímos da cidade e já andamos 6 km.
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Ainda em Logroño |
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Sinalização não é problema |
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Siga as setas amarelas! |
Em Navarrete, entrei em uma
igreja muito bonita. Quando saí, coloquei um donativo num local que falava algo
relacionado à luz, mas não entendi direito. Aí percebi que a igreja começou a
ficar iluminada. Um desbunde! Lindo demais e emocionante...
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El toro. |
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Ruínas da Iglesia Del Hospital de San Juan de Acre. |
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Navarrete |
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Desbunde! |
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Uvas |
O dia estava muito frio, e eu
estava extremamente cansada dos 30 km do dia anterior. Minha expectativa era
chegar em Ventosa às 14:30 e dormir lá. Cheguei às 14:50, e fui perguntar pelo
albergue em um bar. O rapaz informou: não há albergue aberto, agora só em
Nájera, daqui a 12 km. Eu disse: é o que??? Eu perguntei: mas não há nada?
Hostel, algo... Ele disse: acho que há hotel, mas são 40 euros, posso ligar pra
você. Eu disse: não, obrigada, moço... Pra quem estava acostumada a pagar de 5
a 10 euros em albergue, aquele preço era muito caro. Retirei forças de dentro
de mim, e segui.
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Bar em Ventosa |
Estava muito preocupada: 12 km
significavam 3 horas de caminhada, e às 18 hs, o sol já estava se pondo. O dia
estava completamente nublado. Eu estava com medo de escurecer. Eu tinha
lanterna de cabeça, mas não queria precisar passar por aquilo. Saí acelerando o
passo, andando que nem uma louca, com a adrenalina a mil. Isso fez as dores
desaparecerem. Pedi: ai meu Deus, faz com que o sol apareça e com que eu
encontre alguém. Não deu outra. Mais algum tempinho, o sol deu as caras, e mais
à frente encontrei o Bernard passando protetor solar. Mas depois o perdi de
vista. Depois desse “alívio”, diminuí um pouco o passo e as dores voltaram.
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Obrigada, Papai do Céu, pelo Sol! |
Nájera não chegava nunca. Quando
eu achava que estava chegando, ainda faltava muito. Quando eu via civilização,
ainda faltava andar demais, atravessar uma ponte, e etc. Chorei. É certo que eu
deixei o psicológico me abalar. O psicológico é muito importante. Fiquei tão
transtornada, que parei de tirar fotos. Meu foco era só chegar. Hoje vejo que
não tinha necessidade desse desespero. Eu fiz certo em apressar o passo, mas
tinha que ter mantido a serenidade.
Quando finalmente cheguei em
Nájera, não achava o albergue. Perguntei numa farmácia, mas não souberam me
informar, acho que falaram que não estava aberto, algo assim. Vi uma pousada,
entrei feliz e o cara me olhou triste: está tudo lotado... E me deu um papel
com o nome Hostal Hispano. Atravessei a ponte de volta pra localizar este
hostel, e graças a Deus tinha vaga. Tive que morrer nos 30 euros.
Acho que foi providencial: ganhei
um quarto só pra mim, um banheiro só pra mim, privacidade. Eu precisava disso
após andar 30 km em 2 dias seguidos, totalizando 60 km. Eu estava MORTA COM
FAROFA. Tomei um dorflex, lavei minhas dores no chuveiro, conversei com a minha
família, com meus amigos... Vi que havia criado uma bolha, em função da
caminhada desenfreada, mesmo com a vaselina nos pés. E fui matar a fome, no
restaurante de mesmo nome do hostal. Comi allubias (feijão, uhuuuul), frango
com batatas, pudim, tomei vinho... O Flávio, do grupo de peregrinos do Whatsapp, falou: Janaina, você está em La Rioja, aproveite o vinho! Quando pedi acete, a atendente disse “azeite?”. Aí eu falei: ah, que bom, você
fala azeite que nem eu. Aí ela: claro, eu sou Portuguesa, ora pois! Haha!
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Finalmente em Nájera, a cidade entre as pedras! |
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Acabada, partiu comer! |
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Feijoada espanhola. |
Aquele momento no restaurante era
um misto de sentimentos e emoções. Vontade de chorar, cansaço, alívio, dores, fome
sendo saciada, gratidão... Sei lá... Voltei para o hostel naquela friaca e caí
na cama. A experiência deste dia me fez perceber que eu não podia confiar na
informação do site Urcamino, sobre os albergues abertos. Ao longo do caminho
ainda usei o site da Aprinca (Albergues Invierno), mas até este tinha
informações controversas. O melhor mesmo é perguntar às pessoas ao longo do
caminho.
Ter um dia duro seguido de um dia
extremamente duro não estava nos meus planos. Mas a gente supera.
As Igrejas desta página e do post anterior parecem escavadas na pedra...que lindas!
ResponderExcluirE que desespero esse hein?! Fico me perguntando se, do jeito que vivo me perdendo, não viveria adentrando nas cidades-fim no escuro!!
Pois é, Perd, esse dia foi punk!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPuuuxa ! Que blog-passeio mais lindo!
ResponderExcluirObrigado por trazer tanta coisa bonita,
tanta coisa sugestiva!!!
Pedro Lessa
Obrigada, Pedro!
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