terça-feira, 15 de março de 2016

11/11 – Logroño a Nájera

Pra não correr o risco de acordar tarde, neste dia coloquei o celular pra despertar. Dei uma volta em Logroño para conhecer os monumentos. A cidade é bem bacana, tem vários atrativos culturais, dá vontade de ficar mais 1 dia, mas eu preferi seguir caminhando. Fui conversando com Bernard, um peregrino espanhol que trabalha com turismo. Ele leva turistas para dar uma volta em Barcelona (amo!) naqueles skates motorizados, e nisso, vai apresentando a cidade. Conversamos bastante sobre as diferenças da vida espanhola e brasileira, foi bem agradável. Quando chegamos num parque verde grande e bonito, no fim da cidade, Débora avisou: ainda nem saímos da cidade e já andamos 6 km.


Ainda em Logroño

















Sinalização não é problema



Siga as setas amarelas!






Em Navarrete, entrei em uma igreja muito bonita. Quando saí, coloquei um donativo num local que falava algo relacionado à luz, mas não entendi direito. Aí percebi que a igreja começou a ficar iluminada. Um desbunde! Lindo demais e emocionante...



El toro.




Ruínas da Iglesia Del Hospital de San Juan de Acre.

Navarrete



Desbunde!






Uvas


O dia estava muito frio, e eu estava extremamente cansada dos 30 km do dia anterior. Minha expectativa era chegar em Ventosa às 14:30 e dormir lá. Cheguei às 14:50, e fui perguntar pelo albergue em um bar. O rapaz informou: não há albergue aberto, agora só em Nájera, daqui a 12 km. Eu disse: é o que??? Eu perguntei: mas não há nada? Hostel, algo... Ele disse: acho que há hotel, mas são 40 euros, posso ligar pra você. Eu disse: não, obrigada, moço... Pra quem estava acostumada a pagar de 5 a 10 euros em albergue, aquele preço era muito caro. Retirei forças de dentro de mim, e segui.


Bar em Ventosa

Estava muito preocupada: 12 km significavam 3 horas de caminhada, e às 18 hs, o sol já estava se pondo. O dia estava completamente nublado. Eu estava com medo de escurecer. Eu tinha lanterna de cabeça, mas não queria precisar passar por aquilo. Saí acelerando o passo, andando que nem uma louca, com a adrenalina a mil. Isso fez as dores desaparecerem. Pedi: ai meu Deus, faz com que o sol apareça e com que eu encontre alguém. Não deu outra. Mais algum tempinho, o sol deu as caras, e mais à frente encontrei o Bernard passando protetor solar. Mas depois o perdi de vista. Depois desse “alívio”, diminuí um pouco o passo e as dores voltaram.

Obrigada, Papai do Céu, pelo Sol!




Nájera não chegava nunca. Quando eu achava que estava chegando, ainda faltava muito. Quando eu via civilização, ainda faltava andar demais, atravessar uma ponte, e etc. Chorei. É certo que eu deixei o psicológico me abalar. O psicológico é muito importante. Fiquei tão transtornada, que parei de tirar fotos. Meu foco era só chegar. Hoje vejo que não tinha necessidade desse desespero. Eu fiz certo em apressar o passo, mas tinha que ter mantido a serenidade.
Quando finalmente cheguei em Nájera, não achava o albergue. Perguntei numa farmácia, mas não souberam me informar, acho que falaram que não estava aberto, algo assim. Vi uma pousada, entrei feliz e o cara me olhou triste: está tudo lotado... E me deu um papel com o nome Hostal Hispano. Atravessei a ponte de volta pra localizar este hostel, e graças a Deus tinha vaga. Tive que morrer nos 30 euros.
Acho que foi providencial: ganhei um quarto só pra mim, um banheiro só pra mim, privacidade. Eu precisava disso após andar 30 km em 2 dias seguidos, totalizando 60 km. Eu estava MORTA COM FAROFA. Tomei um dorflex, lavei minhas dores no chuveiro, conversei com a minha família, com meus amigos... Vi que havia criado uma bolha, em função da caminhada desenfreada, mesmo com a vaselina nos pés. E fui matar a fome, no restaurante de mesmo nome do hostal. Comi allubias (feijão, uhuuuul), frango com batatas, pudim, tomei vinho... O Flávio, do grupo de peregrinos do Whatsapp, falou: Janaina, você está em La Rioja, aproveite o vinho! Quando pedi acete, a atendente disse “azeite?”. Aí eu falei: ah, que bom, você fala azeite que nem eu. Aí ela: claro, eu sou Portuguesa, ora pois! Haha!

Finalmente em Nájera, a cidade entre as pedras!

Acabada, partiu comer!

Feijoada espanhola.



Aquele momento no restaurante era um misto de sentimentos e emoções. Vontade de chorar, cansaço, alívio, dores, fome sendo saciada, gratidão... Sei lá... Voltei para o hostel naquela friaca e caí na cama. A experiência deste dia me fez perceber que eu não podia confiar na informação do site Urcamino, sobre os albergues abertos. Ao longo do caminho ainda usei o site da Aprinca (Albergues Invierno), mas até este tinha informações controversas. O melhor mesmo é perguntar às pessoas ao longo do caminho.
Ter um dia duro seguido de um dia extremamente duro não estava nos meus planos. Mas a gente supera. 

5 comentários:

  1. As Igrejas desta página e do post anterior parecem escavadas na pedra...que lindas!
    E que desespero esse hein?! Fico me perguntando se, do jeito que vivo me perdendo, não viveria adentrando nas cidades-fim no escuro!!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Puuuxa ! Que blog-passeio mais lindo!

    Obrigado por trazer tanta coisa bonita,
    tanta coisa sugestiva!!!

    Pedro Lessa

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