domingo, 8 de maio de 2016

20/11 – Indo à Palência pegar dinheiro

            Acordei bem cedo pra não correr o risco de perder o ônibus para Palência. Quando saí, ainda estava escuro. Tomei café no local onde sabia que o ônibus passaria próximo. Fiquei um bom tempo no ponto esperando. Uma senhora que pegaria o mesmo ônibus que eu ficou conversando comigo. Comentou do caso da Denise Thiem, que já relatei aqui, e disse: hija, no camine sola!
            Fui no ponto pagador mais próximo de onde desci, e o local estava com a placa “aluga-se”. Fiquei na dúvida se era ali mesmo, perguntei numa lanchonete próxima, fiquei bem confusa. Depois de esperar (estava com esperança de que fosse abrir), fui em busca de outro ponto pagador, andando. A dor esquisita nos tendões de Aquiles continuava. Quando cheguei lá, a atendente disse que não tinha dinheiro. Indicou que eu fosse em outro, próximo dali. Era o terceiro e último, pelo menos dos indicados no site da MoneyGram. Cheguei lá, e a informação foi a mesma: não tenho dinheiro. Eles não tinham aquele valor em espécie.
            Não acreditei naquilo. Fiquei desolada. Resolvi tentar a sorte nos pontos receptores, mas eles falaram o que eu já sabia: aqui só enviamos dinheiro. Meu humor despencou. Era aquilo mesmo que estava acontecendo? Ter me deslocado pra uma cidade fora da rota do Caminho, seguindo a alegação que só poderia ser ali, para onde já havia sido endereçado o saque, e em nenhum lugar eu conseguir sacar o dinheiro. Perdi um dia de caminhada, fiquei 1 dia distante dos meus amigos peregrinos, tudo isso à toa. E continuava com pouco dinheiro. Ou melhor, menos ainda.
            Liguei pra central e expliquei a situação. Disse inclusive que precisaria sacar em León, na segunda-feira, pois eu não estava hospedada em Palência, não aceitaria ter que dormir ou voltar lá e perder mais 1 dia de caminhada. Eles teriam que dar um jeito. Disseram que dariam retorno, na expectativa de que conseguissem falar com algum ponto pagador em Palência, só que a minha passagem de volta já estava comprada. Se eu adiasse minha passagem, esperaria por mais 5 horas além do que esperei, e chegaria à noite de volta a Carrión de Los Condes.
            A cidade de Palência é bem bonita, mas eu não tirei nenhuma foto. Eu estava focada em resolver o meu problema e estava com um humor péssimo. O dia estava frio e nublado, só tive alguns poucos minutos de sol.
            Não quis esperar o retorno da central: voltei pra Carrión no horário previsto e fui pro Albergue Espírito Santo. A hospitaleira estranhou o fato do último carimbo na minha credencial já ser o daquele albergue. Pelo visto ela não tinha entendido minha explicação em portunhol, expliquei novamente. Ganhei uma medalhinha de Nossa Senhora. Conheci novos peregrinos, como o italiano Frederico, um francês que ficou super preocupado comigo, e a brasileira Ingrid (que mora em Taiwan). Fui informada que o Bruno - peregrino brasileiro com quem eu já tinha contato pelo WhatsApp - estava naquele albergue, mas não o vi.
            Por conta do pouco dinheiro, eu comecei a racionar comida. Apesar de ter fome, não comi assim que cheguei no albergue, pois sabia que teria fome mais tarde. Segurei a onda e mais à noite comi um peixe que sobrou do almoço (esquentei no microondas).
Preciso confessar algo: neste dia não tomei banho. A rotina do peregrino geralmente é tomar banho quando chega no albergue, apenas. Eu sempre dormia com a roupa que caminharia no dia seguinte. Nós não tomamos banho de manhã porque não dá tempo, porque ninguém merece ficar gastando muita água dos albergues, e o principal motivo: porque a pele do pé fica mole, por mais que o sequemos, e isso o torna mais suscetível às bolhas. Mas neste dia eu cheguei, lembrei de como foi sofrido o banho do dia anterior (o banheiro deste albergue não tem calefação), e pensei: ah, quer saber? Não vou tomar banho não. Nem caminhei hoje! Hahaha...
A única foto que tenho desse dia é a que recebi dos meus amigos peregrinos, que estavam em Terradillos de Los Templários.
Pedi que ninguém mais da minha família se envolvesse no problema do cartão, pois o fato de ter várias pessoas envolvidas acabou resultando em falha de comunicação, gerando este meu deslocamento desnecessário. Fui até grossa com eles (desculpe!). Quando fiz contato com a central do cartão, ainda não tinham uma posição. Não me agüentei: chorei com a atendente na linha. David Jeong, um peregrino coreano, me perguntou se estava tudo bem comigo.

Jung, Kim, Manu, Lee, Bram, em Terradillos.

2 comentários:

  1. Fui colocar as leituras em dia e tô de coração partido! Se não tivéssemos estado juntas recentemente teria ficado preocupada... é incrível o poder da leitura não é mesmo: você está aqui mas cada vez que leio me transporto para lá junto com você, vivenciando - claro que quando acaba estou quentinha em minha casa mas essa parte pula! E realmente esses últimos relatos foram perturbadores não sei o que faria; ao mesmo tempo como é maravilhoso experimentar a simpatia (vibrei com seu "presente" no relato anterior; tá confesso, chorei mesmo!!) e benevolência das pessoas e nós mesmos sermos benevolentes. Ainda que difícil, são essaa coisas que tornam o mundo melhor... Obrigado por esta experiência!

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