domingo, 17 de abril de 2016

18/11 – Castrojeriz a Frómista

            Acordei tarde, e o peregrino-que-não-posso-dizer-quem-é do relato do dia anterior já estava em sua devida cama. Percebi que ele ainda não havia limpado o chão nem a roupa de cama. Fui avisá-lo, e ele simplesmente não lembrava o que tinha acontecido. Tadinho, ficou super sem-graça e pediu mil desculpas. A galera não perdoou e deu uma zoada nele. O hospitaleiro chegou e era nítida em seu semblante a decepção por ter nos dado liberdade. Os meninos não haviam lavado a louça ainda, conforme o combinado, e o albergue estava bagunçado. Manu perguntou se eles iriam lavar mesmo. Quando eu saí, eles já estavam se mobilizando pra arrumar tudo.
            O frio deu uma trégua. Passamos por Puente Fitero, Itero de La Vega e Boadilla Del Camino. Hoje me assustei com a quantidade de peregrinos no Caminho, e vários deles que ainda não conhecíamos. Era a galera que tinha um ritmo maior, e acho que neste dia vinham de Hontanas.

Entrada do Albergue em Castrojeriz





Quem é o ponto azul no meio do Caminho? Manu!


















7 peregrinos caminhando na mesma visada? Raridade no outono!
            Manu tinha o hábito de caminhar ouvindo música. Eu não gosto. Prefiro escutar o local. Mas cantei diversas vezes no caminho. Cantei samba de raiz, samba enredo, Lulu Santos... Ela comentou como foi agradável caminhar lado a lado com um rio.





Margeando o rio...







            Frómista é uma cidade bem grandinha, tem até estação de trem. Quando fui pagar o albergue municipal, que custava 8 euros, eu só tinha uma nota de 100 euros e 7,80 euros trocados. Expliquei pra hospitaleira meu problema, ela aceitou os 7,80. O albergue não tinha calefação, e tomar banho foi bem dolorido.

Chegando em Frómista.




Linha de trem.




            Perdi minha escova de dentes. Saí do albergue otimista a conseguir sacar dinheiro, portanto combinei com o pessoal que ia jantar fora com eles depois de receber massagem, pois tinha visto um anúncio nas proximidades. Fui tentar sacar em 2 bancos, e continuava não conseguindo. Tentei fazer compra na farmácia (sabonete, escova de dentes, creme contra assadura, creme dental) e também não consegui. Obviamente desisti da massagem. Este problema do dinheiro já estava me estressando. Voltei pro albergue e falei pro pessoal que não iria no restaurante. Eles me ofereceram dinheiro e insistiram para que eu fosse, mas não aceitei. Comi no albergue um yakisoba de Cup Noodles e torradas encalhadas (já estavam desde Pamplona na minha mochila) com cream cheese. Tinha bastante gente comendo no albergue também. O espaço para comer era o único que tinha calefação, então era gostoso ficar lá. Um peregrino velhinho me ofereceu um pouco de seu chocolate. A hospitaleira socializava com alguns amigos.
            Envolvi minha família e meu namorado no meu problema, eles ligaram pra Central de Atendimento do cartão tentando entender o que aconteceu e tentando resolver o problema. Já passava pela minha cabeça que se não conseguisse resolver, teria que interromper o meu Caminho e voltar pra casa, pois nem pra trocar a passagem eu tinha dinheiro. Minha mãe disse que poderia enviar dinheiro.
            O albergue desligou o wifi 21 hs e não consegui mais fazer contato com minha família. Duas peregrinas chegaram extremamente tarde, com os lábios roxos. Todo mundo já estava em suas devidas camas, mas as luzes ainda estavam acesas. Eu indiquei uma das 2 camas vazias pra uma delas e perguntei se ela estava bem. Ela disse que sim. Logo depois, pegou um saco lotado de nozes e castanhas com casca , abriu, e colocou do meu lado, falando: tome! Fiquei até assustada com aquilo, pois me pareceu um peso desnecessário a carregar, mas peguei algumas e agradeci. 

2 comentários:

  1. Filha, cada vez que leio um post revivo toda emoção do momento e tenho cada vez mais orgulho de você.
    Te amo.

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