domingo, 21 de agosto de 2016

30/11 – Villafranca Del Bierzo a Ruitelán

            Este foi um dia de sol, porém como eu caminhei entre as montanhas, estava quase sempre na sombra, e sentia bastante frio. Manquei boa parte do tempo, principalmente no começo, quando o corpo ainda está frio.


Nuvem baixa.

Saindo de Villafranca.


            Passei por Pereje, Trabadelo, La Portela, Ambasmestas e Vega de Valcarce. Na programação e ritmo normais, hoje seria um dia para dormir no Cebreiro. O Cebreiro é um ponto bem alto do Caminho, e dizem que é a etapa mais difícil depois da etapa Saint Jean – Roncesvalles. É também um local muito famoso por sua energia cósmica e seu misticismo, então certamente é bem interessante dormir por lá. Mas eu estava morrendo de medo de dormir lá. O motivo era o frio. Ouvi dizer que no albergue do Cebreiro não tinha cobertor, e como meu saco de dormir é muito fino, estava receosa de que ele não desse conta, mesmo com a calefação. Por conta da altitude elevada, o local tem fama de temperaturas baixas.




Olha a lua!

Opa, vamos aproveitar esse solzinho!











            Quando cheguei em Ruitelán, havia andando apenas 18 km. Vi que tinha um albergue (Pequeno Potala) que iria abrir dentro de meia hora, aproximadamente. Entrei no espaço do albergue, tentei abrir a porta, mas tinha o bilhete avisando o horário. Sabia que dali até o Cebreiro era só subida, ou seja, só temperatura diminuindo. Pensei: ai meu Deus, continuo ou fico? O ruim de ficar seria ter que andar 30 km no dia seguinte, pra alcançar a programação de chegar em Santiago no dia 7/12. Seria pesado... Lembra das 2 vezes em que andei 30 km? Pois então...
            Decidi ficar. Perguntei numa lanchonete em frente se o albergue realmente abriria, a senhora disse que sim. Sentei na mesinha que tinha na rua e aguardei. Vi a coreana que também estava no Ave Fênix na noite anterior passar. Pensei: será que estou tomando a decisão certa?
            Deu o horário da abertura do albergue. Girei a maçaneta, desta vez a porta estava aberta. Um senhor me recebeu, carimbou minha credencial e perguntou se eu iria querer o jantar e o café-da-manhã. Disse que sim. No mural, muitas fotos de peregrinos. Fui pro quarto, e imaginei que seria a única peregrina naquele albergue naquela noite. De fato, fui. Tinha um edredon delicioso, resolvi tirar uma soneca depois do banho, até porque estava super cedo. Acho que “almocei” o que tinha na mochila.
            Quando acordei, fiquei na área de refeições lendo um pouco. Aproveitei o clima zen do albergue: música boa, incenso, imagem de Buda... Tinha um outro senhor hospitaleiro muito simpático. Na hora da janta, ele que foi pra cozinha.
            Fiquei um pouco constrangida de ter uma pessoa dedicando seu tempo a fazer uma refeição apenas pra mim. Pelo que notei, ali era a casa deles 2. O cheiro vindo da cozinha estava delicioso. Ele cantava enquanto cozinhava, e perguntou se eu não comia algum tipo de alimento. De início, os tradicionais e deliciosos vinho, água e pão (tão cristão, né?). Logo mais, uma sopa D-E-L-I-C-I-O-S-A. Me emocionei e chorei um pouquinho. Aquilo é generosidade demais. E como segundo prato, bolinhos de frango e uma salada supimpa. Aquilo era um carinho na alma, sabe? Sem palavras.

O delicioso jantar que me fez chorar.
            Ele perguntou que horas eu iria me levantar, para que servisse o café. Eu sugeri 7:30. Ele disse: que isso, muito escuro e frio! Eu disse: verdade, hehe. Então concordamos em um horário mais tarde. Fui dormir. No meio da madrugada, como de hábito durante todo o Caminho, levantei quase fazendo xixi nas calças, correndo pro banheiro. Acho que isso era por conta do frio. Também estava ensopada de suor, a calefação era bem potente. Dei uma espiada no celular e recebi a excelente notícia sobre a entrega da monografia do Lindinho. Ai, que felicidade. Aproveitei pra chorar de alegria, alívio, auto-perdão, gratidão... Deus é bom, né? 

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