O dia
estava nublado e eu fiquei borocoxô. Impressionante como a ausência do sol
altera meu humor. Segui a dica que me deram em Manjarín de ir pela estrada no
trecho entre Molinaseca e Ponferrada e foi bom, pois meu pé voltou a doer. Tive
uns 5 episódios de pontadas que me faziam ir à Lua, e por conta disso, andei
mancando.
Saindo de Molinaseca. |
Santiago |
Ponferrada
tem um castelo que dizem ser muito interessante de visitar, mas como passei por
lá pela manhã, estava fechado. Passei também por Columbrianos, Fuentes Nuevas,
Camponaraya e Cacabelos. Depois das 13:00, o tempo abriu, e meu humor melhorou.
Chegando em Ponferrada. |
Castelo. |
Imagine esta visada na primavera. |
Olha o tempo abrindo! |
Villafranca
não chegava por nada. Não agüentava mais mancar, estava exaustivo. Mas a gente
persiste. Já tinha uma desconfiança de que o albergue municipal não estava
aberto. Não vi movimento, mas fiz questão de descer até a entrada pra
verificar, mesmo mancando. De fato estava fechado. Bateu um medinho, mas vi uma
plaquinha informando que o Ave Fênix estava aberto. Subi tudo de volta e fui à
procura do Ave Fênix.
Villafranca Del Bierzo |
O albergue
tem uma área social e de refeições com aquecimento, mas no restante o
aquecimento é precário. Eles separam os quartos por gênero, e no feminino só
tinha eu e uma coreana. Fui tomar banho e achei que não tinha luz, portanto
tomei banho no escuro. Foi um pouco complicado, porque além de não enxergar
direito, estar muito frio e o chuveiro respingar pra todo lado, eu tive que
trocar de roupa dentro do box, visto que o banheiro tinha uma porta que dava
direto pra uma área externa, onde qualquer um poderia te ver, caso alguém
abrisse a porta pra entrar. Depois que notei que tinha luz sim. Ninguém merece,
né?
A janta foi
feita por um dos hospitaleiros, e o pagamento era por donativo. Antes de
jantarmos, os hospitaleiros fizeram todo um ritual. Pediram que não nos servíssemos
por enquanto. Pediram que levantássemos, déssemos as mãos e um deles fez um
discurso. Foi a única vez que escutei no Caminho: “Ultreia! Susseia!” Isso
porque a saudação mais comum hoje em dia é “Buen Camino” mesmo. Acho que já
expliquei aqui, mas Ultreia que dizer “Vamos adiante!”, e Susseia quer dizer “Vamos
mais acima!”. Ambos são saudações do Caminho.
O jantar foi simplesmente
espetacular e delicioso. Um dos melhores que comi no Caminho: sopa de legumes
deliciosa, salada super bem temperada, empanado com queijo e presunto e
sobremesa! Quando me lembro, lambo os beiços. Elogiei muito o hospitaleiro.
Achei muito bacana também a preocupação dos hospitaleiros em nos relembrar os
sentidos do Caminho.
Conheci peregrinos que ainda não
tinha visto. Um me foi apresentado e eu não entendi a nacionalidade dele.
Quando disse que era brasileira, ele começou a falar em português. Achei que
ele era de Portugal. Depois que entendi que ele era alemão. Quando perguntei
porque ele sabia falar português, disse que já morou por um período no Brasil e
que gostava muito da língua. Conheci também um peregrino simpático que não
lembro se era de Porto Rico ou Costa Rica.
Jantar espetacular! |
Ficar na área externa estava
impossível de tanto frio. Dentro do quarto também não estava fácil, mas me
cobri com duas mantas grossas, além do saco de dormir. Aquela dupla de meninas
que chegou em uma noite bem tarde, congelando de frio e que me deram nozes,
chegou novamente bem tarde e com lábios roxos. Não consigo entender porque elas
faziam isso.
Resolvi colocar no papel o
planejamento das próximas paradas, pois o Caminho estava chegando ao fim, e a
previsão era de que eu caminhasse por mais 8 dias. A minha preocupação mais
imediata é que eu estava com medo de dormir no Cebreiro na noite seguinte por
conta do frio.
Não conheci Jesus, uma figura icônica
do Caminho que é deste albergue. Que pena...
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